22.1.25

O jovem como lata de lixo da indústria do consumo


Os jovens não estão mais incluídos no discurso sobre a promessa de um futuro melhor. Em lugar disso, agora são considerados parte de uma população dispensável, cuja presença ameaça evocar memórias coletivas reprimidas da responsabilidade dos adultos. Os jovens não são plena e inequivocamente dispensáveis. O que os salva da dispensabilidade total - embora por pouco - e lhes garante certo grau de atenção dos adultos é sua real e, mais ainda, potencial contribuição à demanda de consumo: a existência de sucessivos escalões de jovens significa o eterno suprimento de "terras virgens", inexploradas e prontas para cultivo, sem o qual a simples reprodução da economia capitalista, para não mencionar o crescimento econômico, seria quase inconcebível. Pensa-se sobre a juventude e logo se presta atenção a ela como "um novo mercado" a ser "comodificado" e explorado. "Por meio da força educacional de uma cultura que comercializa todos os aspectos da vida, e novas tecnologias de mídia, como telefones celulares", as instituições empresariais buscam "imergir os jovens num mundo de consume em massa, de maneiras mais amplas e diretas que qualquer coisa que possamos ter visto no passado.

O problema dos jovens está sendo considerado claro e explicitamente uma questão de "adestrá-los para o consumo", e de que todos os outros assuntos relacionados à juventude são deixados numa prateleira lateral - ou eliminados da agenda política, social e cultural.

Graças ao banco de dados que os usuários do Facebook constituem de forma voluntária (de graça!) e ampliam a cada dia, as ofertas de marketing podem agora identificar consumidores já "preparados", sazonados e maduros, e os tipos certos de desejo (que, portanto, não precisam mais de palestras sobre a beleza dos buracos); podem alcançá-los sob um disfarce duplamente atraente - lisonjeiro, além de bem-vindo - oferecendo uma bênção que é "só sua, feita para você, para atender às suas necessidades próprias e pessoais".

Só uma pergunta vazia para tempos vazios: talvez a última barreira entre a juventude e sua destituição seja a capacidade recém-descoberta e possibilitada de servir como local de armazenamento dos excessos da indústria de consumo em nossa era de removibilidade?

Zygmunt Bauman
1925 - 2017