19.9.25

Arbeit Macht Frei


Como todos sabem, essas eram as palavras escritas sobre o portão de entrada do campo de concentração de Auschwitz. Seu significado literal é "o trabalho liberta"; seu significado profundo é bem menos claro, só pode causar perplexidade e presta-se a algumas considerações.

O campo de concentração de Auschwitz foi criado razoavelmente tarde; foi concebido desde o início como campo de extermínio, não como campo de trabalho. Transformou-se em campo de trabalho só por volta de 1943 e apenas parcialmente e de modo acessório; portanto, creio que se deve excluir a possibilidade de que essa frase, na mente de quem a ditou, tenha sido entendida em seu sentido direto e com seu óbvio valor proverbial-moral.

É mais provável que tivesse significado irônico, que brotasse daquela veia humorística pesada, arrogante, sinistra, cujo segredo só os alemães têm e que só em alemão tem nome. Traduzida em linguagem explícita, ao que parece, ela deveria soar mais ou menos assim:

"O trabalho é humilhação e sofrimento, e não compete a nós, Herrenvolk, povo de senhores e heróis, mas a vós, inimigos do Terceiro Reich. A liberdade que vos espera é a morte."

Na realidade, e apesar de algumas aparências contrárias, o desconhecimento e o desprezo do valor moral do trabalho eram e são essenciais ao mito fascista em todas as suas formas. Por trás de todo militarismo, colonialismo, corporativismo está a vontade clara, por parte de uma classe, de desfrutar do trabalho alheio e, ao mesmo tempo, negar-lhe qualquer valor humano. Essa vontade já se mostra clara no aspecto antioperário que o fascismo italiano assumiu desde os primeiros anos e foi se afirmando com precisão cada vez maior na evolução do fascismo em sua versão alemã, até as maciças deportações para a Alemanha de trabalhadores provenientes de todos os países ocupados, mas atingiu o coroamento e também a redução ao absurdo no universo do campo de concentração.

Ao mesmo fim tende a exaltação da violência, esta também essencial ao fascismo: o cassetete, que logo assume valor simbólico, é o instrumento com que são incitados ao trabalho os animais de carga e tração.

O caráter experimental dos campos de concentração hoje é evidente e provoca intenso horror retrospectivo. Hoje sabemos que os campos de concentração alemães, tanto os de trabalho quanto os de extermínio, não eram, digamos, um subproduto de condições nacionais de emergência; não eram uma triste necessidade transitória, mas sim os primeiros e precoces rebentos da Nova Ordem. Na Nova Ordem, algumas raças humanas seriam extintas; outras como os eslavos em geral e os russos em especial, seriam subjugados e submetidas a um regime de degradação biológica precisamente estuado, para transformar seus indivíduos em bons animais de trabalho, analfabetos, sem qualquer iniciativa, incapazes de se rebelar e de criticar.

Portanto, os campos de concentração foram, substancialmente, "instalações-piloto", antecipações do futuro destinado à Europa nos planos nazistas. À luz dessas considerações, frases, como a de Auschwitz, "O trabalho liberta", ou como a de Buchenwald, "A cada um, o seu", assumem um significado preciso e sinistro. São antecipações das novas tábuas da Lei ditada pelo patrão ao escravo e válida só para este último.

Se o fascismo tivesse prevalecido, a Europa inteira estaria transformada num complexo sistema de campos de trabalho forçado e de extermínio, e tais palavras, cinicamente edificantes, seriam lidas na porta de entrada de todas as fábricas e de todos os canteiros de obras.

Primo Levi
1919 - 1987