21.9.25

Realisten und fundamentalisten


Os fanáticos religiosos tomam a ofensiva por toda parte. De onde eles vêm? Com certeza não de outros planetas. Vêm justamente do interior do próprio mundo dominado pela economia de mercado. O “realismo” neoliberal, na verdade, conhece muito mal as pessoas. Ninguém mais pode negar que no mundo do liberalismo econômico a miséria social se alastra como um incêndio de vastas proporções. Não apenas no Brasil, mas também em todo o mundo a liberdade e tolerância ocidentais dão provas de um cinismo próprio à “democracia do apartheid”, como bem a denominou Jurandir Freire Costa (Universidade do Rio). Ao mesmo tempo, não é apenas nas favelas que os vínculos sociais são rompidos, mas em todas as classes sociais. Tanto o efetivo processo econômico quanto a ideologia neoliberal tendem a dissolver as relações humanas na economia. O economista norte-americano Gary S. Becker foi laureado, em 1992, com o Prêmio Nobel por desenvolver a hipótese de que todo comportamento humano (até mesmo o amor) é orientado pela relação custo-benefício e pode ser representado matematicamente.

O fundamentalismo, porém, não possui um programa de emancipação social, mas apenas um projeto ideológico de pura agressão, resultado aliás do próprio fracasso da emancipação. Todo o seu programa esgota-se num ímpeto agressivo com roupagem religiosa, como na expressão dos jovens favelados de Paris: “J'ai la haine”. As novas religiões do ódio, sejam elas de origem islâmica ou cristã, são todas de natureza sintética, arbitrária e eclética. Todas têm apenas o nome em comum com as autênticas tradições religiosas a que se remetem. São um subproduto da modernidade decadente das sociedades de mercado ocidentais ou ocidentalizadas. Pelo próprio fato de não oferecerem uma perspectiva histórica, tornam-se uma atraente alternativa de carreira para pequenos e grandes “líderes” que se valem do ressentimento generalizado.

Robert Kurz
1943 - 2012