A maioria daqueles que se recusam a viver segundo as normas da diferença sexual patriarcal foram, por um lado, perseguidos pela polícia e pelo sistema judiciário como potenciais criminosos, e, por outro, patologizados pelo aparelho psicanalítico, encarcerados nas prisões psiquiátricas, violados para provar sua verdadeira "feminilidade" ou "masculinidade", submetidos a lobotomias, terapias hormonais, eletrochoques e supostas "curas analíticas". Em relação a nós, que somos os monstros da modernidade patriarco-colonial, a cura pela palavra e as terapias comportamentais ou farmacológicas não estavam em conflito aberto, mas trabalhavam de maneira complementar. Um processo de extermínio político das minorias dissidentes do regime da diferença sexual estava em marcha. Muitos de meus predecessores foram mortos e morrem ainda hoje assassinados, violados, espancados, encarcerados, medicalizados... ou viveram ou vivem sua diferença em segredo.
Quando falo de uma nova epistemologia, não me refiro unicamente à transformação das práticas tecno-científicas, mas também a um processo de ampliação radical do horizonte democrático.
Paul B. Preciado