27.5.07

[No caminho de Proust]

À noite mamãe sempre me levava para mijar antes de dormir. Eu tinha 5 anos, e ainda muito agarrado às tetas de mamãe. A torneira da pia aberta. A água escorrendo para eu ficar relaxado e deixar fluir o líquido antes de me deitar. Mas nunca mijava. Nunca. O único contraponto era, logo de manhã, quando mamãe vinha me acordar para ir à escola, achar-me dormindo ao lado da cama, com o Mozart, meu gato. Ela apostava todas as suas fichas pensando que eu havia crescido, e não ter mijado na cama. E lá estava eu, enrolado no lençol junto do Mozart.

A vida tem seu próprio tempo. Eu, por exemplo, nunca mijava sob a circunstância do banheiro com mamãe. Até o dia em que ela... disposta a me ver – seu único filho – crescido. Feito homem maduro. A cara do pai. E foi bem no dia que mamãe, não sei por que, não resolveu me levar mais ao banheiro, que não... Mozart tinha dormido na cama. Agarrado ao sonho, me via fechando todas as torneiras e todas as portas dos banheiros. O penico, agora, ao lado da cama, cheio de um líquido verde, de uma textura gelatinosa.