15.6.07

[Wazup]


Lendo O Rei da Vela, de Oswald de Andrade. A mentalidade capitalista selvagem, pra usar essa expressão batida e que me incomoda, por parecer limitada para expressar a verdadeira proporção disso hoje, tempo, acredito, de uma desutopia que se manifesta na nossa histeria em não enxergá-la e nos inserirmos de qualquer forma na realidade nua e crua, no insosso agora, AGORA, acordado e frito, está toda lá.
Grande coisa, mas significa que Oswald de Andrade possuía uma lucidez extrema em meio à todo espírito dionisíaco de sua arte e do tão famoso movimento modernista, o qual, às vezes, duvido que tenha existido senão para suplantar espíritos errantes de artistas que não queriam morrer fossilizados como dinossauros, para depois serem descobertos, se é que algum dia descobrimos alguma coisa.
Oswald é visto como uma figura desse modernismo, quase tão folclórico quanto uma personagem do Macunaíma, de Mário de Andrade, aliás, visto também como um bem intencionado qualquer coisa, mas, surpresa, todos devidamente desmistificados pelos sangrentos cursos de letras do país, redutos de sádicos, góticos malas e uma série outra de aberrações malmente saída do armário, da qual faço parte, camuflada nessa mesma realidade, com essa mesma mentalidade que o Oswald..ahn... denuncia, flutuando todos nesse abismo de esterilização cega. Flutuando, com suas asinhas negras.
Então leio uma entrevista com Raduan Nassar. Raduan renega qualquer esquema teórico. Categoricamente. E qualquer movimento literário. Não se interessa, não entende de surrealismo, de dadaísmo e afins ou não afins. Invejo Raduan, por estar queimando, literalmente, no meio desse inferno do qual ele se absteve. É por isso que escrevo e texto e não consigo chegar a lugar algum. Porque estamos mortos. Eu e todos que fazem parte do meu cotidiano. Porque não posso salvar a mim mesmo, por enquanto. O relógio gira, e talvez o tempo mude alguma coisa. Mas e o tédio irrefutável nisso tudo, e minha voz, saindo de dentro do marasmo, onde sofro violência de pessoas que se petrificaram e viram totens, sorriem e não sabem do eu vejo ou f alo. Quem são? Quem sou eu? Incomunicabilidade total. Falamos somente em línguas guturais. Pra mim, os figuras que circulam na vida comum são totens e ardem diferente de mim. Que sofro por não acertar os meus alvos. Por que posso estar terrivelmente enganado e haver algum espírito festivo e libertário nisso tudo. O que é ainda mais terrível, mas só pra quem toma consciência. Totens e sua mística. Pós-moderna.
Os cursos de letras, como uma madame segurando com toda paixão seu pequeno poodle (o poodle, sua mentalidade, modus operandi, estilo de vida e tudo o que decorre disso, enfim, a vida de merda, no entanto, fofa, latindo, cagando, sujando a bundinha e comendo de tudo, um poodle e toda sua versatilidade, um corte de pêlos moderno) ao se deparar com um estranho canino, meio lobo, meio mendigo/índio queimando em qualquer esquina, fica com o "pé atrás", inseguro de tal "estética" e "ideologia". Ou "conceitos", que se foda. E não há nada mais pós-moderno do que essa posição, que é absurda, banal e aterrorizando, ao mesmo tempo aparentemente tão inofensiva que não parece sequer existir. Afinal, mantém as engrenagens do sistema funcionando. Sem consciência alguma de unidade, temos de tudo na nossa realidade, positivismo, capitalismo neandertal, marxismo de direita, espantalhos, essa alma penada que vos escreve, sonhadores de mais de vinte anos que perderam todas as ilusões por engano num peido, e agora só sonham com seus cotovelos e supercílios, não são tomados por lembranças antigas e idiotas, elas é que os tomam, dou tiros que saem pela culatra, já não conheço mais ninguém, escrevo qualquer coisa por que não há ego, a consciência é instantânea assim como um nissin miojo, assim o sono, assim o amor assim a vida. Assim o nada, o único deus realmente presente e destruidor e subjugador que conheci. Grande coisa, de novo. Penso no que foi o tropicalismo, talvez o fim de tudo, a ruína mais escancarada que já existiu, o símbolo final e toda a papagaiada que é a cultura brasileira, a melhor de todas(?), enfim, o fim do mundo inteiro. Não vou citar nomes nem nada, toda a salada musical e colorida não é mais que um despacho sem graça e estilizado. Elitizado? Não sei. Estou certo? Não sei, e talvez Caetano saudando Carla Perez também não seja um sinal. E tudo é o tropicalismo, que tudo engoliu, até onde pode, como uma ameba monstro num filme trash. Zé do Caixão. Esse é o carnaval sem fim em que vivemos. É funesto, saibam. É um carnaval funesto, que ao menos seja honesto, que ao menos não finja ser outra coisa. Aí posso até me sentir melhor. Saúdo Glauco Mattoso por ter feito proveito do tropicalismo, acho que não sem reinventa-lo. Eu não tive estômago, mas sabemos que o problema dele está longe de ser isso. E não estou sendo irônico. Caetano Veloso é blasé como um deus grego com uma leve asia. Será que Caetano nos punirá por falta de hecatombes? Mó rata contigo. Acho que sim.
Num regurgito anticomunista, me levaram por engano (por má fé). Antes de ficar tropicalista, paro por aqui. E tanto faz, isso é o que importa. Sinto muito.E tchau. Agora, sai fora, antes que eu resolva ouvir o "Cê"..

(Anônimo - do século de ouro brasileiro)