25.7.07

Prosa

Clarice Lispector deixou-me na beira do abismo. Conflitou minha objetividade sobre a realidade - espécie de bom senso cartesiano. Curto-circuito entre o entender e o não entender. Viver? Entre o se livrar de si mesmo: O leitor? Clarice? G.H.? Entre a náusea e o nada? Entre a dúvida? São perguntas que atormentam qualquer um que se arrisque a ler, pela primeira vez, A paixão segundo G.H..
Como um inseto pode revelar no que há de mais primitivo em nosso ser? Como um inseto pode nos contrariar sem palavras, tudo aquilo que subjetivamos em palavras? As interrogações não acabam porque é assim que G.H. narra sua liberdade asquerosa pelo que há de mais subterrâneo em sua fuga interior. Diante da barata é que nascem as grandes dúvidas e através das quais se abre a vida. Abrem-se as portas do inferno, nesta antítese linguística de deslumbramento. De luminescência.

É no impossível onde está a realidade? Onde esteve Clarice? É onde se repete a vida? No impossível, quem vem primeiro: o ovo ou a galinha?
Na
paixão, segundo G.H., vive um ser-além-ser, avesso do que tudo foi criado esperando (re)nascer, vive o ser entre o humano e a barata, mas também o medo. O grito. O nojo. A repulsa. A verdade. Na subjetivação do ser está alguma coisa e o contrário dessa mesma alguma coisa. A gosma. O mito. O barro. O verbo. Antéticamente a tudo isso está o nada. Recôndito subjetivo de alguma coisa anterior ao humano. O ovo? O aniquilamento? A vida? Matéria branca? O mistério? Alguma coisa anterior.