28.2.08

[Nº 13]

[Rapariga a ler, de Jean Honoré Fragonard, 1776]


Treize - j'eus un plaisir cruel de m'arreter sur ce nombre.

Marcel Proust


I. Livros e putas podem-se levar para a cama.

II. Livros e putas entrecruzam o tempo. Dominam a noite como o dia e o dia como a noite.
III. Ao ver livros e putas ninguém diz que os minutos lhes são preciosos. Mas quem se deixa envolver mais de perto com eles, só então nota como têm pressa. Fazem contas, enquanto afundamos neles.
IV. Livros e putas têm entre si, desde sempre, uma amor infeliz.
V. Livros e putas - cada um deles tem sua espécie de homens que vivem deles e os atormentam. Os livros, os críticos.
VI. Livros e putas em casas públicas - para estudantes.
VII. Livros e putas - raramente vê seu fim alguém que os possui. Costumam desaparecer antes de perecer.
VIII. Livros e putas contam tão de bom grado e tão mentirosamente como se tornaram o que são. Na verdade eles próprios muitas vezes nem o notam. Anos a fio alguém vai-se entregando a tudo "por amor" e um dia está lá como corpus bem corpóreo, na ronda das calçadas, aquilo que "para fins de estudo" sempre pairava somente acima delas.
IX. Livros e putas gostam de voltar as costas quando se expõem.
X. Livros e putas remoçam muito.

XI. Livros e putas - "Velha beata - jovem devassa". Quantos livros não foram mal reputados, nos quais hoje a juventude deve aprender.
XII. Livros e putas trazem suas rixas diantes das pessoas.
XIII. Livros e putas - notas de rodapé são para uns o que são, para as outras, notas de dinheiro na meia.

[BENJAMIN, Walter. Rua de mão única. Vol. 2 - Editora Brasiliense, 1987. p. 33-34]