Anotações para futuros pensamentos
Me explique esta preguiça de encontrar com os amigos, esse medo internalizado, somatizado? A alforria não lhe valeu nada: sua independência financeira, sua vontade de representação? Me diga se a verdade é menos existencial, um palco queimando e lascas de madeiras elevando as labaredas do seu inferno interior. Abra sua caixinha de dotes estilísticos. Prove-os, exprimindo a sua sensação sensitível. Capriche no sorriso irônico, na pena da galhofa, na tinta da melancolia, no entanto, nunca perca de foco sua narrativa. Em primeira, segunda, terceira... várias pessoas. Remodele sua vida, dê corpo para esta criatura que nasce de você e transforme-a em matéria virtual; à tarde, o derretimento que vem a 52 kbps.
Com alguma economia, você lança pequenas tiragens de felicidades e, no dia do lançamento literário, seus verdadeiros amigos virão? Você sua. Escrever para sobreviver. E o paradoxo: para quê? Para masturbar algumas idéias das quais você mal consegue esboçar alguns parágrafos? E a lei do incentivo? Mas está tudo lá, na repetição retórica dos estudos literários. Nos conceitos recebidos entre A B C. Eu, como você, também me tornei um sobrevivente aplicado no meu divertimento. Garoto urbano, por que criaram figurinha mais ferrenha de se lidar? Conte-me sua história, soldadinho. A bola de futebol no quarto da infância pronta pra levar uma bica, mas a matéria: o linho, o algodão, o caderno: incita seu devaneio. Não, era uma instantânea vontade de fantasia: dócil e adestrado tédio.