21.5.08

[Dos grandes pensadores]

[Fredrich Nietzsche 1844-1900]


O problema de Sócrates


Dei a entender por que motivos fascinava Sócrates: parecia ser um médico, um salvador. É necessário mostrar ainda o erro que havia na sua fé na “racionalidade” a qualquer preço? – É um auto-engano por parte dos filósofos e moralistas acreditarem que se livram já da décadence pelo facto de lhe moverem guerra. O escapar-lhe é algo que está para além da sua força: o que eles escolhem como remédio, como salvação, não é por seu lado mais que uma outra expressão da décadencemodificam a sua expressão, porém não a eliminam. Sócrates foi um equívoco: toda a moral do aperfeiçoamento, incluindo a cristã, foi um equívoco... A luz diurna mais deslumbrante, a racionalidade a qualquer preço, a vida lúcida, fria, previdente, consciente sem instinto, em oposição aos instintos, tudo isto era só uma doença diferente – e de modo algum um caminho de regresso à “virtude”, à “saúde”, à felicidade... Ter que combater os instintos – essa a fórmula da décadence: enquanto a vida ascende felicidade é igual a instinto. –

[NIETZSCHE, Frederico. Crepúsculo dos ídolos – ou como se filosofa às marteladas. Lisboa: Guimarães Editores, 1985. p.32]