6.6.08

[O que se passa pela minha cabeça]

[Man sitting, de Wayne Thiebaud, 1964]


O que se passa pela minha cabeça. Jogo de espelho em terceira pessoa.

À noite [tudo que o circunda] torna corpo de uma guerrilha. Não é mais o sol que o fustiga. Mas a sombra presente e feito concreto. A ausência dos amigos, dos papos descontraídos. Ter o que fazer. Sua cabeça pensa: Planejar. Elaborar. Concretizar. Pensando bem, quando tempo dura uma garrafa de conhaque? Eu tomo a marca presidente. A mais em conta. Para o momento. Este devido e absoluto momento diante da tela do pc.
Você boceja: é melhor morrer de vodca... não era um poema? Há muito tempo que o sono encurtou. A necessidade de escrever. Mas somente a necessidade? Necessidades lhe dão um certo langor prazeroso. As palavras saem cansadas e carregadas de lugares comuns do seu diálogo narcisista. Mas cansadas do quê? Do individualismo? Do tédio que se derrete, à tarde, na sua pele? Elas [as palavras] nem sequer saem mais. Quanto mais carregadas de conteúdo. Quanto mais. Você repete e se repete. O discurso a todo o tempo muda. Você tem de se adequar a ele. Ser mais social. Sorrir. Praticar algumas dinâmicas de grupo. Quieto, sua anta. Ouça: Beba mais saúde, não é o capitalismo? Compre batom, não é a propaganda?

Mas por que diabos você pensou nessas coisas? Você começa a me repetir. A se repetir. De novo? É melhor voltar. Mas para onde mesmo?
Para o real, que é aqui. Onde estou. Onde mesmo? Onde você está.