Estávamos eu, o Jeferson e o Cigano sentados numa mesa branca de um bar. Este último amigo tinha uma pinta do lado esquerdo da boca, detalhe que nunca havia observado; aquele, como era de se esperar, terminava por demais sentimental quando bebia. Havíamos tomado um bocado. Um porrete. Mas Jeferson e Cigano ainda assim queriam fumar um baseado. Eu relutava pelo estado em que me encontrava. Ao pé da minha cadeira, apoiei a minha mochila. Dentro dela havia uma câmera fotográfica e um livro do Antonio Torres, objetos com os quais saira hoje à tarde. Meu tio Nelson apareceu e se dirigiu ao bar. Tempos depois, ainda com o Jeferson e o Cigano lamentando por não terem sequer um fino, meu tio Nelson reapareceu. Por que eu não conversava com ele era o que mais me intrigava. Um outro tio, dono de um bigodão, algo que me lembrava o Antonio Bandeiras atuando no filme Átame, surgiu com três jovens da mesma altura. Não os reconheci, mas tive a leve sensação de que eram meus parentes. O tio Nelson abriu uma porta de ferro pela qual passaram os quatro. E se virou para nós e perguntou: "Quem de vocês se responsabilizou em ficar sóbrio? É preciso sempre alguém ficar com o juízo alerta." Olhei para ele antes de ir embora, e me perguntei novamente por que diabos eu não estabelecia um diálogo e por que ele não me reconhecia como sobrinho. A porta de ferro continuou aberta e dava para uma rua. Foi neste momento que o Cigano se levantou e apontando para fora disse: "Olha lá". Meu outro tio que acabara de passar pela gente estava cercado por outros homens que o espancavam. Descarrilhei feito um louco com desejo de briga. E gritei: "Meu tio, não, cambada de filha da puta!"
Acordei instantes depois, mas permaneci de olhos fechados repetindo mentalmente que era um sonho, era um sonho. Foram minutos de um certo pavor.
Acordei instantes depois, mas permaneci de olhos fechados repetindo mentalmente que era um sonho, era um sonho. Foram minutos de um certo pavor.