
vem de belenguê no longo da rua.
- Uei!
Quem quer leite da vaca Cristina?
No Bango lambido de luzes escassas
estira-se lentamente a madrugada.
Amontoa-se a garoa miúda. Lá adiante
roda a carroça de lixo da noite.
- Uei!
Bebam leite da vaca Cristina.
E a vaca boêmia, com fitas nas guampas,
se lambe faceira.
Sacode o chocalho.
- Boa-noite, comadre.
Veja as tetas da vaca Cristina!
E passa a patrulha noturna da zona.
É a hora em que o Bango cansado cochila.
Somente enche o resto da noite deserta
o belenguê molango no longo da rua.
- Uei!
Quem quer leite da vaca Cristina?
São Paulo, 1924
[MASSI, Augusto (org.). Poesia completa de Raul Bopp. Rio de Janeiro: José Olympio; São Paulo: Edusp, 1998. p. 210]