No
início do ano, época de matrículas, dois outdoors de escolas me chamaram a
atenção: num era apresentado um menino de terno, em performance de executivo.
Aí está implícito o quê? A escola é míope quanto à pedagogia: seus olhos estão
voltados para o futuro e não para o presente da criança e suas necessidades. E
o futuro é apenas o monstro que devorará mão-de-obra barata quando, em qualquer
função, ninguém terá visão própria de mundo, muito menos seu discurso próprio.
Em termos de classe média, isto quer dizer, nas palavras de Marta Harnecker,
que estamos formando síndicos para as multinacionais. O segundo outdoor, de
escola confessional, mostrava, como um de seus objetivos, o multiculturalismo.
Ora, esta área de saber faz estudos de gêneros que implicam análise das
sexualidades, entre as quais o homossexualismo. Uma escola religiosa estudaria
este tipo de vivência?
A
escola, da base à universidade não está funcionando como transformadora. O
currículo é ultrapassado, professores estão perdidos com as novas linguagens e
as reviravoltas do mundo. A escola se apóia em livros didáticos, com
conhecimento cristalizado, sem que o aluno participe do processo deste. Até a
noção de tempo e espaço foi alterada, o ciborgue é um contorno no horizonte e o
currículo brota da concepção ultrapassada de mente, de aprendizagem, de
cultura, de identidade.
Por
trás de tudo isto, há o interesse utilitário com raízes do mercado. Mas há
resistência. As revoltas de jovens em Seattle, em Gênova, o fórum de Porto
Alegre – as ONGs são sinais de novas formas de luta.
Curitiba
como cidade universitária é outro mito. Claro que pelo menos a UFPR desenvolve
pesquisas em todos os campos, mas vê-se estrangulada pela falta de verba. As
instituições particulares vivem situação cômoda: esperam que os professores que
fizeram carreira na instituição pública e tiveram sua formação paga pelo povo
se aposentem, então os contratam sem gastar um níquel na trajetória destes.
Enfim, “a celebração da suposta eficiência e ao desperdício dos serviços
públicos, a redefinição da cidadania pela qual o agente político se transforma
em agente econômico e o cidadão em consumidor, são todos elementos centrais do
projeto neoliberal global” (Tomaz T. da Silva).
Em
resumo, aqui ou em qualquer parte, não há educação real: que o sujeito entre em
contato com vários discursos e possa construir o seu. Aqui se prepara a criança
e o jovem para consumir primeiro a cidade. Depois ingressam no shopping centers
que não por acaso cresceram tanto no cenário urbano...
Paulo Venturelli