23.12.14

cozinhe, em fogo brando, por muito tempo

[Andy Singer]

... a cidade tornou-se em minhas mãos um livro...

Benjamin
[...]

É verdade que o trabalho de cozinhar era exclusivamente uma escolha nossa. Mas nos dias de hoje quando é que isso não acontece? Com o fast-food e as lojas de conveniência como opções tão baratas e onipresentes, cozinhar quase já não é mais algo obrigatório, mesmo entre os pobres. Cabe a nós decidir se vamos ou não cozinhar, e cada vez mais temos decidido não fazê-lo. Por quê? Algumas pessoas responderão que acham cozinhar tedioso ou complicado. Porém, a razão alegada pela maioria é que elas não dispõem de tempo.

E para muitos de nós isso é verdade. Já há alguns anos os americanos têm passado mais horas trabalhando e menos tempo em casa. Desde 1967, acrescentamos 167 horas - o equivalente a um mês inteiro de trabalho - à qualidade total de tempo que passamos no escritório a cada ano; nos lares em que ambos os pais trabalham (atualmente a maioria), esse número se aproxima de quatrocentas horas. Os americanos passam hoje mais tempo trabalhando do que as pessoas de qualquer outra nação industrializada - pelo menos duas semanas a mais por ano. Isso talvez aconteça porque, historicamente, a prioridade do movimento sindical americano tem sido lutar por dinheiro enquanto o movimento dos trabalhadores europeus pleiteia mais tempo - uma semana de trabalho mais curta, férias longas. Não é de surpreender que nesses países onde as pessoas ainda levam a sério o ato de preparar sua refeições em casa, como acontece na maior parte da Europa, elas também disponham de mais tempo para se dedicar a isso.


Michel Pollan | Cozinhar: uma história natural da transformação. Trad.: Cláudio Figueiredo
2014