20.1.15

valor e cultura

[Franco Matticchio]


Dios no existe. Pero desde que fue inventado 
hay idiotas e hijos de puta matando en su nombre.

B. B.

O riso espanta o medo, e sem o medo toda Cristandade está em perigo.

U. E.

XXII


Desenhar a Utopia como uma projeto necessário à continuidade da imaginação política, à iconoclastia e à esperança de que podemos contribuir, efetivamente, para a construção de um mundo que, ao mesmo tempo, permita a liberdade e minimize as iniquidades. Sem, sobretudo, idolatrar líderes medalhões, cuzões armados, militantes de fachada. O lance é desencantadamente racional, soldadinho da fé: fanático killer. 

Ludwig Wittgenstein escreveu, na segunda metade da década de 1940, em Cultura e Valor, que "o  humor foi exterminado na Alemanha Nazi". Com o absurdo ataque à equipe do jornal satírico Charlie Hebdo caminhamos para sermos homens bem dispostos e nutridos à seriedade? Ou pioramos como humanos ao ponto de temer o riso em favor de uma obediência rigorosa? Tempos sombrios.

Qualquer imbecil semiletrado conhece (ou ao menos deveria conhecer) o que a História nos relata quando o tema é religião, mas mesmo assim as pessoas piram, deliram e preferem ser submissas a um ser abstrato que, de fato, não existe. Nunca existiu. E se existisse, deveríamos, como Mikhail Bakunin, abolir a figurinha de poder. Porém, a piração é completa e a viagem vai além da maionese. As pessoas não sabem, ou sabem mas não querem saber, do controle da expressão de todas as opiniões, da tirania absoluta, do dogma por trás das igrejas. Mas a falta de leitura do mundo e da palavra remete ao pior cego que quer ver. E tal disparate é obviamente repulsivo. No entanto (para o nosso desespero) sabemos que as demonstrações históricas são irrelevantes para os fundamentalistas, os guardiões da fé, os sacerdotes da seriedade, os bonequinhos sem cérebros.

Para terminar essa síntese, uma reflexão do historiador Henrique Carneiro: "é indispensável defender o direito à liberdade religiosa, mas o maior de todos os direitos é o de não ter religião nenhuma".