11.2.18

e os livros devem ler-se? e por que ordem?

Sulla memoria | 2015


A situação ideal para uma tese seria ler em casa todos os livros necessários, quer fossem novos ou antigos (e ter uma boa biblioteca pessoal, bem como uma sala de trabalho cômoda e espaçosa, em que se pudesse dispor numa série de mesas os livros a que nos reportamos divididos em várias pilhas). Mas estas condições ideais são bastante raras, mesmo para um estudioso de profissão.

Se o livro é vosso e não tem valor de antiguidade, não se deve hesitar em anotá-lo. Não deveis dar crédito àqueles que dizem que os livros são intocáveis. Os livros respeitam-se usando-os e não deixando-os quietos. Mesmo se os vendêssemos a um alfarrabista, não nos dariam mais do que alguns tostões, pelo que mais vale deixar neles os sinais da nossa posse.

Eu ou nós? Na tese devem introduzir-se as opiniões próprias na primeira pessoa? Deve dizer-se «penso que ... »? Alguns pensam que é mais honesto fazer assim do que utilizar o plural majestático. Eu não diria isso. Diz-se «nós» porque se presume que o que se afirma possa ser partilhado pelos leitores. Escrever é um acto social: escrevo para que tu que lês aceites aquilo que te proponho. Quando muito pode procurar-se evitar pronomes pessoais recorrendo a expressões mais impessoais como: «deve, portanto, concluir-se que: parece então indubitável que; deve nesta altura dizer-se; é possível que; dai decorre, portanto, que, ao examinar este texto vô-sc que», etc.

Eco, Como se faz...