25.2.18

l'artiste et son temps


Leftover Crack | 2006

[...]

É essencial saber que, sem liberdade, nós não conseguiremos realizar coisa alguma, e que perderemos tanto a justiça do futuro quanto a beleza do passado. A liberdade por si só retira os homens de seu isolamento; a servidão domina uma multidão de solidões. E a arte, por virtude dessa essência livre [...] une o que quer que a tirania separe. Não é de se surpreender, então, que a arte seja inimigo marcado de toda forma de opressão. Não é de surpreender que artistas e intelectuais tenham sido as primeiras vítimas das tiranias modernas da esquerda e da direita. Os tiranos sabem que na obra de arte há uma força emancipatória, uma força misteriosa apenas para aqueles que não a reverenciam. Cada grande obra torna a face humana mais admirável e rica, e esse é todo o seu segredo. [...] O testemunho incessante do homem sobre sua miséria e sua grandeza não pode ser interrompido; uma respiração não pode ser interrompida. Não há cultura sem legado. [...] a tirania moderna tem razão quando nos mostra que, até mesmo quando confinado no seu trabalho, o artista é um inimigo público. Mas dessa forma a tirania presta homenagem - a partir do artista - à imagem de um homem que, até hoje, nada foi capaz de destruir. [...] A liberdade da arte não vale muito quando o único propósito é assegurar o conforto do artista. Para um valor ou uma virtude se enraizar na sociedade é preciso que não haja mentiras a seu propósito.

Albert Camus 
Trad.: Lidia Rogatto