1.6.18

maio de 1968 em Paris


Testemunho de um estudante
Michel Thiollent

Em várias universidades, era denunciado o recrutamento de estudantes em projetos de pesquisa encomendadas por fornecedores de material bélico. De modo geral, questionava-se o papel da universidade e a concepção fragmentária da pesquisa a serviço do complexo industrial-militar. O conteúdo do ensino de ciências sociais foi criticado de modo virulento e disso surgiram várias correntes radicais que substituíram o positivismo vigente por tendências que incluíram marxismo, fenomenologia, psicanálise e teoria crítica.


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De modo geral, entre os principais temas de contestação universitária, destacam-se: a recusa do caráter classista da universidade; a denúncia da falsa neutralidade e da falsa objetividade do saber; a denúncia da parcelização e tecnocratização do saber; a contestação dos cursos e ex cathedra; a denúncia dos professores conservadores ligados à política do governo; o questionamento do lugar que, na divião capitalista do trabalho, os diplomados irão ocupar; a denúncia da escassez de possibilidade de empregos qualificados (problemas dos "débouchés")
Vários aspectos da revolta estudantil francesa foram apontados como positivos por Darcy Ribeiro, tais como: a crítica ao sistema de exames, crítica ao regime capitalista, vontade de estabelecer uma relação entre universidade e trabalhadores.

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Eram organizados meetings e apresentações de filmes militantes, especialmente no Palais de la Mutualité (nesse mesmo local, um grande evento foi organizado, com a participação de J.-P. Sartre, em memória de Marighela, em 1969).

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Mesmo sem terem lido esses autores, muitos estudantes pensavam, quase espontaneamente, que, de fato, ciência e técnica estavam a serviço da dominação, ou faziam parte de um mecanismo de alienação do homem. A contestação da ciência ocidental, do positivismo e do funcionalismo, tão di-fundidos no ensino de ciências sociais, encontravam referências filosóficas ilustres em que se apoiar.

Em 1968 houve um renascimento das idéias anarquistas.