10.10.18

anatomia

1970
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O Estado, e não o mercado, o povo ou quaisquer leis econômicas abstratas, determina o que será produzido, o que será consumido e como será feita a distribuição. Determina, por exemplo, que as estradas de ferro devem declinar enquanto as rodovias prosperam, que os mineiros de carvão devem ser pobres e os diretores de publicidade, ricos. Os empregos e ocupações na sociedade são rigidamente definidos e controlados, bem como dispostos numa hierarquia de compensações, posição e autoridade. Um indivíduo pode mudar de um cargo para outro, mas pouca liberdade ganha com isso, porque em cada cargo fica sujeito às condições impostas. Os indivíduos não têm zona protegida de liberdade, ou soberania individual fora do alcance do Estado. Este não é sujeito a controles democráticos, limites constitucionais ou regulamentações legais. [...] O sistema judiciário não se relaciona fundamentalmente com a justiça, com a igualdade ou com os direitos individuais. Funciona como um instrumento da dominação do Estado e age para impedir a intervenção dos valores humanos ou da escolha individual. Embora as forças que impele o Estado sejam mais impessoais do que perversas, são inteiramente indiferentes às necessidades do homem e tendem a ter as mesmas consequências que teria um sistema expressamente planejado para o objetivo de destruir os seres humanos e sua sociedade.

A essência do Estado Corporativo é ser implacavelmente unilateral. Tem apenas um valor, o valor que se resume em tecnologia-organização-eficiência-crescimento-progresso. O Estado é perfeitamente racional e lógico. Baseia-se num princípio. Mas a vida não pode ser mantida na base de qualquer princípio único. Entretanto, não se permite que qualquer outro valor interfira com este, nem prazeres, nem beleza, nem comunidade, nem mesmo o supremo valor da própria vida. O Estado é assim essencialmente irracional; tem apenas uma ideia e vai avante, sem nunca parar para pensar, refletir, ponderar. Só uma tal irracionalidade baseada num valor único derrubaria as últimas sequóias, poluiria as mais belas praias, inventaria máquinas para lesar e destruir a vida vegetal e humana. Ter um valor único é, dentro da condição humana, ser louco. É ser uma máquina.

Trad.: Pinheiro de Lemos