15.10.18

correspondência copyleft

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Marx e eu somos velhos conhecidos. Encontrei-o pela primeira vez em Paris, em 1844. Éramos bastante amigos. Ele já era muito mais avançado do que eu, como o é ainda hoje, senão mais avançado, incomparavelmente mais erudito do que eu. Na época eu não entendia absolutamente nada de economia política, não havia me liberado ainda das abstrações metafísicas e meu socialismo era puramente instintivo. E Marx, mesmo sendo mais jovem, já era ateu, materialista erudito e pensador socialista. Precisamente nesta época elaborou seu atual sistema. Nós nos víamos frequentemente, pois o admirava muito por seu saber e por sua apaixonada e entusiástica dedicação e entrega à causa do proletariado, mesmo que mesclada com sua vaidade pessoal. Aproveitava ansiosamente todas as suas conversas, sempre instrutivas e espirituosas, quando não estava inspirado por rancores mesquinhos, o que ocorria com frequência. Porém, nunca existiu entre nós uma franca intimidade. Nossos temperamentos não o permitiam. Ele me chamava de idealista sentimental e tinha razão. Eu o chamava de vaidoso, desconfiado, pérfido e também tinha razão.

Bakunin