10.6.19

deus na caixinha de plástico


Annuska vem almoçar em casa. É um momento em que para o trabalho imaterial. Lavo a batatinha salsa, ralo o queijo, ponho a cenoura e a batata doce no vapor. Tempero as asinhas de frango com sal, pimenta, alho e carinho. Annuska dá aquela atrasadinha de sempre. Deixo tudo dentro do forno, no modo quentinho. 

Almoçamos falando dos projetos futuros como um chalé no mato. O que será nosso refúgio espiritual, digamos assim. 

Ela ainda me chama para ajudá-la a levar umas roupas velhas para tingimento. Mochila nas costas, caminhamos até a lavanderia próximo à praça Rui Barbosa. Entre trânsito caótico, gente dormindo na rua, vamos combinando de nos ver mais tarde, mas ela me lembra que tem aula de dança à noite.

A lavanderia está vazia, pressuponho que o atendimento será rápido. Fico do lado de fora colado à bicicleta. Não havia trazido o cadeado para prendê-la, longe dos furtos recorrentes na cidade linda e amorosa. Ligo o celular para ouvir black metal. 

Fico observando a paisagem da cidade poluída por banners horripilantes. Nem prédio de habitação escapa da poluição visual. As ruas entupidas de automóveis apenas causam ruídos, poluição e stress. Nessa minha observação do padrão das cidades, um motoqueiro para a uns dez metros de distancia de mim. Na moto há uns adesivos que me fizeram lembrar caderno de criança. Faltou o smilinguido ali. O motoqueiro me fita, olha para o celular e me fita novamente. Creio que esteja me filmando. Volto a notar os adesivos na caixinha de plástico da moto. Havia alguma coisa como "nas mãos de deus", frase dessas de crente meio sem noção (desculpe a redundância) e um mickey mouse. 

Mando uma mensagem pra Annuska lhe dizendo que há um cara estranho, um tipo fanático com deus na caixinha de plástico. Annuska me envia uma carinha rindo. Volto a fitar o sujeito que deve ter fugido da escola, o que também não muda em nada, visto que as escolas são umas drogas. Mas imagino o que se passa na cabeça do moleque com sua frase religiosa de deus e mickey mouse na moto. Que mistura! Peraí, que lambança fizeram na cabecinha do menino.