18.11.19

Que tipo de criaturas somos nós?


Os termos do discurso político raramente são modelos de exatidão. Considerando o modo como os termos são usados, é quase impossível dar respostas significativas para questões como "o que é o socialismo"?, ou o capitalismo, ou o livre-mercado ou outros termos de uso comum. Isso vale até mesmo para o termo "anarquismo", que tem estado sujeito a uma ampla variedade de usos e abusos, tanto por inimigos amargurados quanto por aqueles que mantém sua bandeira alta, de modo que ele resiste a qualquer caracterização simples.

Assim entendido, o anarquismo é o herdeiro das ideias liberais clássicas que emergiram do Iluminismo. Ele é parte de uma variedade maior do pensamento e da ação socialista libertários, que vai da esquerda marxista antibolchevique de Anton Pannekoek, Karl Korsch, Paul Mattick e outros, até o anarcossindicalismo que inclui essencialmente as conquistas práticas da Espanha revolucionária em 1936, alcançando, além disso, empresas cujos donos são os trabalhadores, que se espalham hoje pelo Cinturão da Ferrugem dos Estados Unidos, pelo norte do México, pelo Egito e por muitos outros países, mais extensivamente pelo País Basco na Espanha, também envolvendo muitos movimentos cooperativistas pelo mundo afora e uma boa parte das iniciativas feministas e de direitos civis e humanos.

Essa ampla tendência no desenvolvimento humano procura identificar estruturas de hierarquia, autoridade e dominação que restringem o desenvolvimento humano, para então sujeitá-las a um desafio muito razoável: justifique-se. Demonstre que é legítima, tanto por alguma circunstância especial em um estágio particular da sociedade ou por princípio. E se elas são incapazes de responder ao desafio, deveriam ser desmanteladas. E não apenas desmanteladas, mas também reconstruídas; e, para os anarquistas, "reformuladas de baixo para cima".

Trad.: Gabriel de Ávila e Luisandro Mendes