13.11.19

Uma característica de nossa civilização que é claramente contrária às artes

1893 - 1968

A expressão alienação é usada para indicar tanto um problema social como psicológico, mas estes constituem apenas dois aspectos da mesma questão, cuja essência é o divórcio progressivo entre as faculdades humanas e os processos naturais. À parte os muitos aspectos sociais do problema (a começar pela divisão do trabalho e acabando na eliminação do trabalho ou automação, e outras consequências da revolução industrial, como a conurbação e a congestão, a doença e a delinquência), há um efeito geral, observado por filósofos sociais como Ruskin e Thoreau, mas que não têm preocupado muito os sociólogos "científicos", e que poderia ser chamado de atrofia da sensibilidade. Se a visão e a habilidade manual, o tato e a audição, e todos os refinamentos da sensação que se desenvolveram historicamente na conquista da natureza e na manipulação das substâncias materiais, não forem educados e treinados desde o nascimento até a maturidade, o resultado é um ser que dificilmente mereceria ser chamado de humano: um autômato de olhos embotados, desinteressado e desatento, cujo único desejo é a violência, sob várias de suas formas - ação violenta, sons violentos, distrações de qualquer tipo que possam penetrar até seus nervos amortecidos. Suas diversões preferidas são: a arena de esportes, as casas de jogos mecânicos do tipo caça-níqueis, as discotecas, a indiferença ante o crime cometido à sua frente, a farsa e o sadismo na televisão, o jogo e as drogas.

Herbert Read | 1967
Trad.: Waltensir D.