27.5.20

Regresso ao Admirável Mundo Novo

1958

A comunicação com as massas, em uma palavra, não é boa nem má; é simplesmente um poder e, como qualquer outro poder, pode ser bem ou mal empregado.

No seu processo após a Segunda Guerra Mundial, Albert Speer, ministro do Armamento de Hitler, pronunciou um longo discurso em que, com considerável argúcia, descrevia a tirania nazista e analisava-lhe os métodos. “A ditadura de Hitler”, disse, “diferenciou, num ponto fundamental, de todas as que a antecederam historicamente. Foi a primeira ditadura no presente período do progresso técnico moderno, uma ditadura que aplicou um uso total de todos os recursos técnicos para dominar o seu próprio país. Através de artifícios técnicos como o rádio e o alto-falante, oitenta milhões de pessoas foram privadas da liberdade de pensar. Desta maneira foi possível sujeitá-las ao desejo de um homem... Os ditadores que antecederam Hitler necessitavam de assistentes altamente qualificados mesmo nos escalões mais inferiores – homens que podiam pensar e agir de maneira totalmente livre. O sistema totalitário, no período do moderno desenvolvimento técnico, pode dispensar tais homens; graças a métodos modernos de comunicação, é possível mecanizar a direção dos escalões inferiores. Em consequência disto, surgiu o tipo atual do homem que recebe ordens e se abstém de críticas.

No Admirável Mundo Novo da minha profética ficção, a tecnologia avançou para muito além do ponto a que chegara no tempo de Hitler; em consequência, os que receberam ordens eram muito menos críticos do que os seus semelhantes nazistas, muito mais submissos à “elite” dirigente. Apesar disso, foram padronizados geneticamente e condicionados após o nascimento, de forma a realizarem as suas funções subalternas e, portanto, a comportarem-se de maneira tão previsível como máquinas.

Aldous Huxley
1894-1963