30.10.20

Não verás país nenhum


Imagens de satélite, coletados pela empresa Planet, mostram o desmatamento sistemático de um trecho da Amazônia durante o período de maio de 2017 a setembro de 2020.

Filme de uma terra arrasada.

***

O historiador Luiz Marques nos explica com maior acuidade o que é o modelo de agropecuária imposto pelo capitalismo globalizado: o principal responsável pela eliminação física dos habitats terrestres e aquáticos e pela intoxicação da vida silvestre.

O agronegócio é – juntamente com a indústria de combustíveis fósseis, a mineração e a pesca industrial – a causa maior, não apenas da insegurança alimentar que, segundo a FAO, retoma agora sua linha ascendente, mas do declínio cada vez mais perigoso da biodiversidade. Os fazendeiros brasileiros que poluem os solos, a atmosfera, a água e os alimentos – após desmatar, incendiar as florestas e matar os que lhes resistem – são uma peça na engrenagem da rede de megacorporações que controlam o sistema de produção e negociação especulativa de soft commodities, das sementes ao consumo final, passando pelo financiamento, os fertilizantes, os agrotóxicos, a maquinaria e o transporte, que rasga e fragmenta o que resta da manta florestal. Por culpa sobretudo dos interesses financeiros (os vested interests) dessa grande coalizão da terra arrasada, o planeta está perdendo animais e plantas a uma velocidade “sem precedentes”. 

O Brasil, como se sabe, está entre os países ao mesmo tempo mais ricos em biodiversidade e mais ameaçados de ver aniquilada essa riqueza vital pelo agronegócio e pela mineração (aí incluída, obviamente, a extração de petróleo), as duas atividades mais devastadoras da economia mundial.