O presidente americano se provou um gênio na manipulação do ciclo de notícias. Toda vez que uma informação negativa se insinuava nas redes, ele conseguia mudar o assunto com um simples tuíte, em geral em caixa-alta e depreciando alguém.
Esse conflito permanente com a imprensa tem um propósito: blindar os governantes contra críticas, minando a confiança na mídia profissional. Dada uma rasteira na credibilidade da mídia, é fácil convencer as pessoas de que uma reportagem de denúncia de corrupção, por exemplo, não passa de um ataque da imprensa oposicionista.
Suas palavras têm poder e fornecem uma justificativa para criminosos agirem.
Trump inspira muitos líderes populistas que imitam sua retórica - e suas ações - contra a imprensa. Foi isso que Zaffar Abbas, editor-chefe do jornal paquistanês Dawn disse: os ataques do presidente americano estão sendo emulados por mandatários de grandes países emergentes, como Brasil, Índia e Paquistão. Só que nesses países os efeitos são mais nefastos, porque as instituições ainda estão se formando, são democracia em transição.
No Brasil, Bolsonaro nem disfarça - copia sem constrangimento seu ídolo, Donald Trump, nos mínimos detalhes. Em 24 de outubro de 2019, o americano anunciou que iria cancelar a assinatura do Washington Post e do New York Times na Casa Branca e no governo federal. Uma semana depois, no dia 31 de outubro, seu colega brasileiro anunciou que o governo federal iria cancelar a assinatura da Folha.
No Brasil, a Federação Nacional dos Jornalistas registrou 208 agressões físicas e verbais a veículos de comunicação e jornalistas em 2019. Bolsonaro foi o responsável por 58% dessas agressões.
A retórica e as ações cada vez mais agressivas contra a imprensa, por parte do presidente, de seus filhos e alguns aliados, funcionam como um sinal verde para apoiadores passarem dos insultos às vias de fato. O ato extremo demonstra a gravidade da situação. Foi a primeira vez que veículos de mídia, em comum acordo, deixaram de mandar repórteres cobrirem coletivas presidenciais por motivos de segurança.
Em intensidade e abrangência, os ataques de Bolsonaro contra a imprensa são incomparáveis, não tem nenhum paralelo na história do Brasil.
Além do enfraquecimento da imprensa crítica, Bolsonaro e o entorno ideológico de seu governo, sobretudo o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o filho presidencial Eduardo Bolsonaro vêm buscando uma aproximação com a Hungria por meio da religião. Os dois países, ao lado dos Estados Unidos, fazem parte de uma aliança para a defesa da liberdade religiosa; na realidade, trata-se de um alinhamento dos países cristãos ocidentais conservadores, aos quais se soma também a Polônia.
Outro primo ideológico de Bolsonaro é o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte. Como o brasileiro, ele se elegeu com uma plataforma linha-dura contra a criminalidade. No caso de Duterte, ele vem empreendendo uma guerra contra as drogas que já causou mais de 20 mil mortes.
