O exame microscópico das leituras também se expande: o leitor vai da citação para o texto como série de citações, do texto para o volume como série de textos, do volume para a enciclopédia, da enciclopédia para a biblioteca. Esse espaço fantástico não tem fim porque supõe a impossibilidade de encerrar a leitura, a sensação acachapante de tudo o que ainda falta ler.
A leitura é ao mesmo tempo a construção de um universo e um refúgio diante da hostilidade do mundo.
A literatura faz isto: dá ao leitor um nome e uma história, retira-o da prática múltipla e anônima, torna-o visível num contexto preciso, faz com que passe a ser parte integrante de uma narração específica.
A pergunta "o que é um leitor?" é, sem sombra de dúvida, a pergunta da literatura.
Ricardo Piglia
1941 - 2017