A segregação urbana não é um status quo inalterável, mas sim uma guerra social incessante na qual o Estado intervém regularmente em nome do "progresso", do "embelezamento" e até da "justiça social para os pobres", para redesenhar as fronteiras espaciais em prol de proprietários de terrenos, investidores estrangeiros, a elite com suas casas próprias e trabalhadores de classe média. Como na Paris da década de 1860 sob o reinado fanático do barão Haussmann, a reconstrução urbana ainda luta para maximizar ao mesmo tempo o lucro particular e o controle social. A escala contemporânea de remoção populacional é imensa: todo ano centenas de milhares, por vezes milhões de pobres - tanto aqueles que têm a posse legal quanto os invasores - são despojados à força de bairros do Terceiro Mundo. Em consequência, os pobres urbanos são nômades, "moradores transitórios num estado perpétuo de realocação".
Nas grandes cidades do Terceiro Mundo, o papel panóptico coercitivo de "Haussmann" costuma ser desempenhado por órgãos especializados de desenvolvimento; subvencionados por financiadores estrangeiros como o Banco Mundial e imunes aos vetos locais, a sua tarefa é limpar, construir e defender ilhas de cibermodernidade em meio a necessidades urbanas não atendidas e ao subdesenvolvimento em geral.