Quando todos os valores dão o fora, o que restará? O dinheiro.
Procuro o que o dinheiro nos ensina sobre nós mesmos. Que somos egoístas? Saberíamos isso sem ele. O que ele nos ensina não é que somos esgoístas, mas a que ponto o somos. Quanto dinheiro gastamos conosco? E quanto, com os outros? Se admitimos - e há que o admitir - que a família não é mais que um si estendido, dilatado, a um só tempo projetivo e interiorizado, o dinheiro lança em nossa vida e em nós mesmos uma luz crua.
Por que os outros ocupariam um lugar maior em nosso coração do que em nosso orçamento? Claro, é o inverso que é mais verossímil: cabe perguntar-se se o lugar ínfimo que eles ocupam em nossas despesas (1%? menos?) não é ainda a expressão de um esgoísmo mais sutil ou mais hipócrita... O dinheiro mede tudo o que tem um preço, mas também, por isso, o que não tem preço, quero dizer o próprio preço que pomos nas coisas, nas pessoas, em tudo o que não é nós.
O valor de um ser humano, sua dignidade, como diz Kant, é o que, nele, não está à venda, o que não tem preço, isso contra o que o dinheiro não vale nada, não pode nada. Será muito? Será pouco? Compete a cada qual decidir, por sua própria conta, e tanto pior para nós se o dinheiro nos domina. Se tudo se vende, é porque nada vale.
"Como o coração humano é oco e cheio de lixo!", dizia Pascal. É que ele está cheio de tudo o que possui ou cobiça, de tudo o que tem um preço, e que não vale nada. O dinheiro é esse lixo, no coração do homem, que se mede a si mesmo.
Há aqueles que querem a riqueza pela riqueza, e que estão prontos, para enriquecer-se infinitamente, a trabalhar cada vez mais. E, também, há aqueles que só quereriam enriquecer um pouco para trabalhar menos... Isso não é ainda a sabedoria, mas já é menos loucura.