12.11.09

elaboração

[Kokoschka]
[...]

Quem, no entanto, haveria de definir o certo ou o errado? Nem mesmo o artista poderia explicar para si o porquê de suas ações e decisões, ou talvez defini-los em conceitos (é claro que não há necessidade de fazê-lo, pois na obra do artista se define inteiramente). Propondo, optando, prosseguindo, ele parece impulsionado por alguma força interior a induzi-lo e a guiá-lo, como se dentro dele existisse uma bússola. Esta lhe diz: vá adiante, revise, ajunte, tire, acentue, diminua, interrompa! São ordens que, ao recebê-las, o artista sente como imperativas, às quais deve irrestrita obediência, tão absolutamente essenciais se revelam ao seu próprio ser. Trabalhando, ele continuará até um dado momento que a bússola interna possa indicar-lhe: pare, as alternativas se abreviaram, as coisas não são possíveis apenas; ao contrário, tornaram-se necessárias.
É o momento final do trabalho. Somente a própria pessoa pode estabelecê-lo para si, momento crítico este onde o indivíduo sente ter logrado aproximar-se de uma resolução inequívoca, sem reduções e sem redundâncias. A resolução refletirá em tudo o seu equilíbrio interno pois a bússola não era senão ele mesmo. É um momento de entendimento de si. No processo de trabalho, entre a abertura e o fechamento da obra, o indivíduo se determinou e veio a reconhecer-se. E, se o caminho muitas vezes foi acompanhado de ansiedade, de impaciências e de conflitos interiores que pareciam nunca mais querer resolver-se, vivenciar esse momento de determinação é viver um momento de profunda felicidade.

[OSTROWER, Fayga.
Criatividade e processos de criação. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1978. p. 71-72]