7.4.25

The race for riches: the human cost of wealth


Poverty cannot be "cured", for it is not a symptom of the disease of capitalism. Quite the reserve: it is evidence of its robust good health, its spur to even greater acumulation and effort. Even the very richest in the world complain above all about all the things they must forego. Even the most privileged are compelled to bear within themselves the urgency for striving to acquire.

Jeremy Seabrook
1939 -2024

Far beyond the sun

Unlucky Morpheus

Architecture


Em La ville radieuse, publicado em 1933 e destinado a tornar-se a referência do modernismo urbano, Le Corbusier proferiu uma sentença de morte contra as cidades existentes - refugo podre de história, descuidada, infeliz e urbanisticamente ignorante. Ele acusou as cidades existentes de não serem funcionais (algumas funções logicamente indispensáveis não tinham agentes para cumpri-las, enquanto algumas outras funções se sobrepunham e chocavam, causando confusão nos habitantes urbanos), de serem insalubres e de ofenderem o senso estético. As deficiências das cidades existentes eram numerosas demais para que valesse a pena a retificação de cada uma delas em separado, com os recursos que isso exigiria. Seria muito mais razoável aplicar um tratamento por atacado e curar todas as afecções de um só golpe - demolindo as cidades herdadas e limpando a área para a construção de novas cidades planejadas em cada detalhe ou abandonando as grandes cidades de hoje ao seu destino mórbido e transferindo seus habitantes para novas cidades concebidas de forma correta desde o início. La ville radieuse apresenta os princípios que devem guiar a construção das cidades futuras. Le Corbusier dá prioridade às funções sobre o espaço; tanto a lógica como a estética pedem clareza funcional na vida pessoal da cidade.

A arquitetura, de acordo com Le Corbusier, é - como a lógica e a beleza - inimiga nata de toda confusão, da espontaneidade, do caos, da desordem; a arquitetura é uma ciência afim da geometria, a arte da platônica sublimidade, da ordenação matemática, da harmonia; seus ideias são a linha contínua, as paralelas, o ângulo reto.

A felicidade humana só pode assentar no ajuste perfeito entre as necessidades humanas cientificamente definíveis e a disposição inequívoca, transparente e legível do espaço da vida.

Dance of the reed pipes

Piotr Ilitch Tchaikovski
1840 - 1893

In a bourgeois state – whether it is a monarchy or a republic – the school serves as an instrument for the spiritual enslavement of broad masses. 

Its objective in such a state is determined not by the interest of the pupils but by those of the ruling class, i.e. the bourgeoisie, and the interests of the two often differ quite substantially. 

The school’s objective determines the entire organization of school activities, the entire structure of school life and the entire substance of school education.

Nadezhda Krupskaia
1869 - 1939

6.4.25

Utopian Lights


No seu esclarecedor estudo das utopias modernas, Bronislaw Baczko fala de "um movimento duplo: o da imaginação utopista para conquistar o espaço urbano e o dos sonhos de planejamento da cidade e da arquitetura em busca de uma estrutura social em que possam se materializar". Os pensadores e fazedores de coisas eram em igual medida obcecados com "o centro" em torno do qual o espaço das cidades futuras devia ser disposto de forma lógica assim criando as condições de transparência estabelecidos pela razão impessoal. Essa obsessão, em todos os seus aspectos interligados, é magistralmente dissecada na análise de Baczko sobre o projeto da "Cidade chamada Liberdade", publicado em 12 de Floreal do ano V da Revolução Francesa pelo geômetra e topógrafo F.-L. Aubry com o propósito de ser um esboço da futura capital da França revolucionária.

Tanto para os teóricos como para os praticantes, a cidade futura era uma encarnação espacial da liberdade, seu símbolo e monumento, conquistados pela Razão.

Os sonhos de um espaço urbano perfeitamente transparente foram uma rica fonte de inspiração e coragem para os líderes políticos da revolução, ao passo que para os sonhadores a revolução seria antes e acima de tudo uma audaciosa, decidida e competente empresa de arquitetura e construção, pronta para gravar nos terrenos destinados a cidades perfeitas as formas evocadas nas intermináveis noites insones sobre as pranchetas de desenho utopistas.

Nova velocidade, nova polarização


As elites escolheram o isolamento e pagam por ele prodigamente e de boa vontade. O resto da população se vê afastado e forçado a pagar o pesado preço cultural, psicológico e político do seu novo isolamento. Aqueles incapazes de fazer de sua vida separada uma questão de opção e de pagar os custos de sua segurança estão na ponta receptora do equivalente contemporâneo dos guetos do início dos tempos modernos; são pura e simplesmente postos para "fora da cerca" sem que se pergunte a sua opinião, têm o acesso barrado aos "comuns" de ontem, são presos, desviados e levam um choque curto e grosso quando perambulam às tontas fora dos seus limites, sem notar os sinais indicadores de "propriedade privada" ou sem perceber o significado de indicações não verbalizadas mas nem por isso menos decididas de "não ultrapasse".

Zygmunt Bauman
1925 - 2017

The international style: theme and variations 1925-65

 

Modern architecture is and must be squarely based on the social achievements of modern science, technology, and engineering. Why then does it so often tend to become something inhuman? I believe that one of the main reasons is that it is not always created merely to satisfy human requirements, but rather for some other reasons, such as the profit motive. Or attempt is made to cramp the architecture into the frame work of some budget formulated by the mechanical operations of a powerful bureaucratic system of the modern state, this budget having nothing to do with human considerations. Another possibility is that inhuman elements may be contained within science, technology, and engineering themselves. When man attempts to undestand a certain phenomenon, science analyses it, breaking it down into the simplest possible elements. Thus, in structural engineering when one attempts to understand a certain phenomenon, the methods adopted are those of simplification and abstraction. The question arises of wether the use of such methods way not cause a departure from human realities... Modern architecture from human realities... Modern architecture must recall its rudiments, its initial principles as a human architecture. Whereas science and engineering are the products of human brains, the modern architecture and the modern cities wich are built by them tend to become inhumam. That which has beclouded the rudimentary principles of modern architecture, that which is distorting its sense of mission is today's ethical system regulating human action, and the system of value judgments concealed behind this ethical system. These ethical and value criteria are the forces which are moving modern civilization but are also obliterating human dignity and making a mockery of the Declaration of Human Rights. The conclusion of the tragedy is by no means simple. We must go back to the beginnings of Western civilization and discover whether the power to bring about such an ethical revolution can really be found in the inventory of Western civilization itself. If not, then we must seek it, together with Toynbee, in the Orient, or perhaps in Japan.

A província neoliberal


Em princípio, dar oportunidades às pessoas de assumir responsabilidades e uma rigorosa formação científica seriam primordiais de uma boa cidade. A maturidade encontraria nesse espaço racional um solo fértil. As pessoas moralmente maduras são seres humanos que crescem sob condições minimamente boas. Em vez de união, o evitamento e a separação tornaram-se estratégias das cidades contemporâneas para perpetuar os privilégios e riqueza totalmente ilícitos.

As desigualdades socioeconômicas e socioespaciais das cidades brasileiras levam à experiências negativas: a suspeita em relação aos outros, a intolerância face à diferença, o ressentimento com estranhos, a hostilização e a exigência impar de bani-los, assim como a preocupação histérica e paranoica com a "lei e a ordem" que, paradoxalmente, nunca são garantidas.

Não admira que nesta sociedade subdesenvolvida o apoio ao sentimento de grupo tende a ser procurado na ilusão religiosa e em representantes antidemocráticos. Numa localidade alienada fica extremamente difícil adquirir preceitos de harmonia estética e da razão para por em prática a qualidade de vida. A religiosidade alimenta a conformidade. A cidade sem planejamento (harmonia estética e estrutura de qualidade) e cuidado fica associada ao perigo e não com a segurança, gera incertezas e não estabilidade.

5.4.25

Existe vida depois do Panóptico?


Há poucas imagens alegóricas no pensamento social que se equiparem em poder persuasivo à do Panóptico. Michel Foucault usou o projeto abortado de Jeremy Bentham com grande efeito: como uma metáfora da transformação moderna, da moderna redistribuição dos poderes de controle. Com mais discernimento que muitos dos seus contemporâneos, Bentham viu diretamente através dos variegados invólucros dos poderes controladores a sua tarefa principal e comum, que era disciplinar mantendo uma ameaça constante, real e palpável de punição; e, através dos muitos nomes dados às maneiras pelas quais se exercia o poder, a sua estratégia básica e central, que era fazer os súditos acreditarem que em nenhum momento poderiam se esconder do olhar onipresente dos seus superiores, de modo que nenhum desvio de comportamento, por mais secreto, poderia ficar sem punição.

No seu "tipo ideal", o Panóptico não permitiria qualquer espaço privado; pelo menos nenhum espaço privado opaco, nenhum sem supervisão ou, pior ainda, não passível de supervisão. Na cidade descrita por Zamiatin em Nós, todo mundo tinha um lar privado, mas as paredes das casas eram de vidro. Na cidade de Orwell em 1984, todo mundo tinha um aparelho de TV particular, mas ninguém jamais tinha permissão de desligá-lo e ninguém podia saber em que momento o aparelho era usado como câmera pela emissora. 

Metáfora quase perfeita das facetas cruciais da modernização do poder e do controle, ficamos naturalmente inclinados a ver nos arranjos contemporâneos do poder uma nova e melhorada versão das velhas e basicamente inalteradas técnicas panópticas.

O principal propósito do Panóptico era instilar a disciplina e impor um padrão uniforme a comportamento dos internos; o Panóptico era antes e acima de tudo uma arma contra a diferença, a opção e a variedade.O Panóptico laçava seus internos como produtores e\ou soldados, dos quais se esperava e exigia uma conduta monótona e rotineira. A principal função do Panóptico era garantir que ninguém pudesse escapar do espaço estreitamente vigiado.

A ascensão crescente dos meios de comunicação de massa - sobretudo a televisão - leva à criação do Sinóptico, esse novo mecanismo de poder não precisa de coerção - ele seduz as pessoas à vigilância. No Sinóptico, os habitantes locais observam os globais. A autoridade destes últimos é garantida por seu próprio distanciamento; os globais não são literalmente "deste mundo", mas sua flutuação acima dos mundos locais é muito mais visível, de forma diária e intrusa, que a dos anjos que outrora pairavam sobre o mundo cristão: simultaneamente inacessíveis e dentro do raio de visão, sublimes e mundanos, infinitamente superiores mas dando um brilhante exemplo para todos os inferiores seguirem ou sonharem em seguir; admirados e cobiçados ao mesmo tempo - uma realeza que guia, em vez de mandar.

Segregados e separados da terra, os habitantes locais encontram os globais através das transmissões regulares do céu pela TV. Os ecos do encontro reverberam globalmente, abafando todos os sons locais mas refletidos pelos muros locais, cuja impenetrável solidez de presídio é assim revelada e reforçada.

Zygmunt Bauman
1925 - 2017

Time to be free

 
1971 - 2019

André Matos foi o mais brilhante vocalista da história brasileira.


4.4.25

Por que não me ufano


É sempre bom lembrar que tradição marxista existiu na Europa. O Brasil não produz jovens intelectuais radicais que façam crescer a presença marxista e o interesse público por textos marxistas. Os jovens brasileiros são doutrinados no berço pela religião. Até chegar a passar os olhos em alguma linha de teoria marxiana a doutrinação monoteísta já transformou os pirralhos em firewalls da fé.

Note que conceitos do marxismo nunca passaram a estar presentes no discurso público dos estudantes e muito menos dos comunicadores de massa. E não somente nos meios de "formação de opinião", mas nas tomadas de decisões, no serviço público, na estrutura pública o marxismo jamais se firmou. As instituições ligadas à educação também não asseguram um terreno firme para o marxismo. Na periferia do capitalismo, o marxismo não tem chances alguma de um dia vir a ser uma forma dominante de concepção do mundo, pois não há base de apoio à sua difusão.


The industrial novels


The most important point that has to be made about Hard Times is a point about Thomas Gradgrind. Josiah Bounderby, the other villain of the piece, is a simple enough case. He is, with rough justice, the embodiment of the aggressive money-making and power-seeking ideal which was a driving force of the Industrial Revolution. That he is also a braggart, a liar and in general personally repellent is of course a comment on Dickens's method. The conjunction of these personal defects with the aggressive ideal is not (how much easier things would be if it were) a necessary conjunction. A large part of the Victorian reader's feelings against Bounderby (and perhaps a not inconsiderable part of the twentieth-century intellectual's) rests on the older and rather different feeling that trade, as such, is gross. The very name (and Dickens uses his names with conscious and obvious effect), incorporating bounder, incorporates this typical feeling. The social criticism represented by bounder is, after all, a rather different matter from the question of aggressive economic individualism. Dickens, with rough justice, fuses the separate reactions, and it is easy not to notice how one set of feelings is made to affect the other.

Pignatari


O caipirismo mental conduz ao caiporismo.

Sociedade de classes e subdesenvolvimento

O trabalhador assalariado não dispõe de meios para tomar consciência dos fatores dos salários ínfimos e nem para forçar melhores níveis de participação da renda nacional. Fica à mercê de taxas de exploração excessivas, que flutuam ao arbítrio da “política salarial” das empresas e dos governos. Em síntese, a mercantilização do trabalho concorre apenas moderadamente para a mobilização do fator humano, muito pouco para a constituição de uma massa de consumidores de efetivo poder aquisitivo e quase nada para a introdução de tendências mais equitativas de distribuição de renda.


Florestan Fernandes
1920 - 1995

History and structure


Karl Marx a historian of totalities and messenger of humanism.

Not be depended of Karl Marx on to preserve privilege. 
History not a place of tranquillized sleep.

3.4.25

The discourse on language


Education may well be, as of right, the instrument whereby every individual, in a society like our own, can gain access to any kind of discourse. But we well know that in its distribution, in what it permits and in what it prevents, it follows the well-trodden battle-lines of social conflict. Every educational system is a political means of maintaining or of modifying the appropriation of discourse, with the knowledge and the powers it carries with it. What is an educational system, after all, if not a ritualisation of the word; if not a qualification of some fixing of roles for speakers; if not the constitution of a (diffuse) doctrinal group; if not a distribution and an appropriation of discourse, with all its learning and its powers? What is "writing" (that of "writers") if not a similar form of subjection, perhaps taking rather different forms, but whose main stresses are nonetheless analogous? May we not also say that the judicial system, as well as institutionalised medicine, con stitute similar systems for the subjection of discourse?

Michel Foucault
1926 - 1984

Liquid love


Life is about survival. The stronger lives. Who strikes first, survives. As long as you are the stronger, you may get away, unpunished, with whatever you have done to the weak. The fact that the dehumanization of the victims dehumanizes – morally devastates – their victimizers is dismissed as a minor irritant; that is, if it has not been passed over in silence. What counts is to get on top and to stay on top. Surviving – staying alive – is a value apparently unscathed and untarnished by the inhumanity of a life dedicated to survival.

Zygmunt Bauman
1925 - 2017

Sinfonia


Dificilmente iremos ver outro cantor inteligente (e ouvir uma voz limpa e lírica) como o André Matos no Brasil.

O vazio provocado pela morte do maestro teve ter sido sentido por milhões de fãs do heavy metal melódico.

Por que não me ufano


A construção de Brasília não apagou o passado colonial do Brasil e muito menos deu conta da pobreza e das favelas das cidades costeiras.

Brasília não criou nada de novo. A "cidade moderna" possui uma das maiores favelas do país. A forma idealizada da modernidade tardia não conseguiu criar uma barreira contra a corrupção sistêmica, contra a perpetuação da miséria. Tudo continua corrupto e pouco imaginativo para o terceiro mundista.

2.4.25

Por que não me ufano


Qual a vantagem de se permanecer vivo num país onde as pessoas foram privadas da dignidade? O valor, o mais precioso dos valores humanos, o atributo sine qua non de humanidade é uma vida de dignidade e não a sobrevivência a qualquer custo. Mas, em uma sociedade subdesenvolvida, a dignidade tem pouca utilidade. O que demanda é a exploração.

Numa sociedade perpetuamente subdesenvolvida e perversa não se pode legalmente desejar a perfeição e a intelectualidade. Não se pode adotar a beleza e a virtude. Onde reina a ganância, pouco efeito se dá ao tentar persuadir os habitantes e a classe dominante a se comportarem de modo virtuoso. Ternura e atenção não são práticas do terceiro mundista que sequer sonha com uma boa sociedade.

1.4.25

Sombra - uma parábola

Alone, stencil | verão de 2015

Vocês, que me leem, estão ainda entre os vivos, mas eu, que escrevo, desde há muito ingressei no reino das sombras. Pois, em verdade, coisas estranhas acontecerão, e coisas secretas serão reveladas, e muitos séculos decorrerão antes de os homens terem conhecimento destas memórias. E, quando o tiverem, mostrarão uns descrença, outros dúvida; poucos hão de achar sobre que refletir nas palavras aqui traçadas com pena de ferro.

Foi um ano de terror, e de sentimentos mais intensos que o terror. Sentimentos para os quais até hoje não se achou nome apropriado. Muitos prodígios e sinais haviam ocorrido; em toda parte, sobre mar e terra, a pestilência estendera suas asas negras. Para aqueles versados nos astros, não passara despercebido o aspecto mórbido dos céus. Para mim, Oinos, o grego, assim como para outros, era óbvio que ocorrera a alteração do ano 794 quando, à entrada de Áries, o planeta Júpiter põe-se em conjunção com o rubro anel do terrível Saturno. O espírito peculiar dos céus, se não me engano demais, evidenciava-se não só na órbita física da Terra, como também nas almas, nas imaginações, nas meditações da humanidade.

Ao redor de algumas garrafas de rubro vinho de Quios, entre as quatro paredes de um nobre vestíbulo numa cidade sombria chamada Ptolemais, estávamos sentados, um grupo de sete, à noite. Para nossa câmara não havia outra entrada além da alta porta de bronze, trabalhada pelo artífice Corinos. Fruto de hábil artesanato, fora aferrolhada por dentro. Cortinas negras ocultavam-nos a vista da lua, das estrelas lúridas, das ruas despovoadas, embora não excluíssem o pressentimento e a lembrança do flagelo. Havia coisas à nossa volta das quais não posso dar fiel testemunho - coisas materiais e espirituais - a atmosfera pesada - a sensação de sufocamento - ansiedade - e, sobretudo, aquela terrível condição de existência experimentada pelas pessoas nervosas, quando os sentidos estão vividamente aguçados e o poder da reflexão jaz adormecido. Um peso morto acabrunhava-nos. Oprimia nossos ombros, o mobiliário da sala, as taças de que bebíamos. Todas as coisas estavam opressas e prostradas; todas as coisas, exceto as sete lâmpadas de ferro a iluminar nossa orgia. Elevando-se em filetes de luz, queimavam pálidas e imóveis. No espelho que seu brilho formava sobre a mesa redonda de ébano, cada um de nós revia a palidez do próprio rosto, e um brilho inquieto nos olhos baixos dos demais. Mesmo assim, ríamos e nos alegrávamos de modo histérico; cantávamos as doidas canções de Anacreonte; bebíamos generosamente, embora o vinho nos recordasse o sangue. Pois, além de nós, havia outra pessoa na sala - o jovem Zoilo. Morto, deitado de comprido, ali jazia amortalhado - o gênio e o demônio da cena. Mas, ai, não participava de nossa alegria, salvo pela face, retorcida pela doença, e pelos olhos, nos quais a morte extinguira apenas a meio o fogo da pestilência, e que pareciam, face e olhos, ter por nossa diversão o mesmo interesse que têm os mortos pelas diversões dos prestes a morrer. Embora eu, Oinos, percebesse estarem os olhos do cadáver fixos e mim, ainda assim tentava ignorar-lhes a amargura e, contemplando firmemente as profundezas do espelho de ébano, cantava em voz alta e sonora as canções do filho de Teios. Aos poucos, porém, acabaram-se minhas canções, e os ecos, perdendo-se por entre os negros reposteiros da sala, enfraqueceram, tornaram-se indistintos, calaram-se de todo. Mas, ai, dos mesmos reposteiros dos quarto, estendeu-se em seguida sobre a superfície da porta de bronze. Mas a sombra era vaga, e sem forma, e indefinida, não era sombra de homem nem de deus - nem do deus da Grécia, nem do deus da Caldeia, nem de qualquer deus egípcio. E a sombra jazia sobre o bronzeo portal, sob a cornija arqueada, e não se movia, nem dizia palavra: permanecia imóvel e muda. E a porta sobre a qual jazia a sombra, sem bem me lembro, estava encostada aos pés do jovem Zoilo amortalhado. E nós, os sete ali reunidos, tendo visto a sombra sair de entre os reposteiros, não ousávamos encará-la; desviávamos os olhos, mirávamos fixamente as profundezas do espelho de ébano. Por fim, eu, Oinos, articulando algumas palavras surdas, indaguei da sombra qual era seu nome e morada.  E a sombra respondeu:

- Eu sou a SOMBRA. Minha morada fica perto das catacumbas de Ptolemais, junto daquelas sombrias planícies de Helusion que bordejam o canal de Caronte.

E então nós, os sete, erguemo-nos de nossas cadeiras, horrorizados, trêmulos, enregelados, espavoridos. Porque o tom de voz da sombra não era o tom de voz de nenhum ser individual, mas de uma multidão de seres, e, variando de cadência, de sílaba para sílaba, ecoou confusamente aos nossos ouvidos, com os acentos familiares e inesquecíveis das vozes de milhares de amigos mortos.


Edgar Allan Poe | 1835
Trad.: José P. Paes


In love this way

 


When I'm with you all the world goes away


I am a Baumanist!


Brief encounter

I love someone, she must have deserved it in some way.

Self-love prompts us to ‘‘stick to life’’, to try hard to stay alive for better or worse, to resist and fight back against whatever may threaten the premature or abrupt termination of life, and to protect, or better still beef up our fitness and vigour to make that resistance effective.

Self-love can prod us to reject a life that is not up to our love’s standards and therefore unworthy of living.

These days


To speak of home in relation to a building is simply to recognise its harmony with our own prized internal song. Home can be a library, a garden or a motorway diner.

We need a home in the psychological sense as much as we need one in the physical: to compensate for a vulnerability. We need a refuge to shore up our states of mind, because so much of the world is opposed to our allegiances. We need our rooms to align us to desirable versions of ourselves and to keep alive the important, evanescent sides of us.

Liquid love


The "pure relationship" tends to be the prevailing form of human togetherness today, entered "for what can be derived by each person" and "continued only in so far as it is thought by both parties to deliver enough satisfactions for each individual to stay within it".

The present-day "pure relationship", in Giddens’s description, is not, 
as marriage once was, a "natural condition" whose durability can be taken for granted short of certain extreme circumstances. It is a feature of the pure relationship that it can be terminated, more or less at will, by either partner at any particular point. For a relationship to stand a chance of lasting, commitment is necessary; yet anyone who commits herself without reservations risks great hurt in the future, should the relationship become dissolved.
If you know that your partner may opt out at any moment, with or without your agreement (as soon as they find that you, as the source of their enjoyment, have been emptied of your potential, holding little promise of new joys, or just because the grass appears greener on the other side of the fence), investing your feelings into the current relationship is always a risky step. Investing strong feelings in your partnership and taking an oath of allegiance means taking an enormous risk: it makes you dependent on your partner (though let us note that dependency, now fast becoming a derogatory term, is what the moral responsibility for the Other is all about.

Zygmunt Bauman
1925 - 2017

The origins of totalitarism

 
Hannah Arendt’s library card 
Bibliotheque Nationale de France | 1939

That the authority of the nation-state itself depended largely on the economic independence and political neutrality of its civil servants becomes obvious in our time; the decline of nations has invariably started with the corruption of its permanent administration and the general conviction that civil servants are in the pay, not of the state, but of the owning classes.

31.3.25

Liquid love

 

The fading of sociality skills is boosted and accelerated by the tendency, inspired by the dominant consumerist life mode, to treat other humans as objects of consumption and to judge them after the pattern of consumer objects by the volume of pleasure they are likely to offer, and in ‘value for money’ terms. At best, the others are valued as companions-in-the-essentially-solitary-activity of consumption; fellows in the joys of consumption, whose presence and active participation may intensify those pleasures. In the process, the intrinsic value of others as unique human beings (and so also the concern with others for their own, and that uniqueness’s, sake) has been all but lost from sight. Human solidarity is the first casualty of the triumphs of the consumer market.

Por que não me ufano


Solidariedade, compaixão, troca, ajuda, gentileza e simpatias mútuas são noções, no mínimo, estranhas ao pensamento econômico global e abominado pela prática econômica, sobretudo em um país subdesenvolvido como o Brasil.

A periferia do capitalismo jamais será um país cujos habitantes não são concorrentes e objeto de uso e consumo. Um país de colegas no esforço contínuo e interminável de construir uma boa sociedade, de fundar um sociedade de gente letrada é inimaginável. Não vai acontecer.

Por trás da “sociabilidade humana” esconde o capital descontrolado e desigual colocando os subalternos numa eterna competição. É loucura. Uma sociedade funcionando neste ritmo não poderá ter êxito.

Os sucedâneos comercializados substituíram por completo os vínculos humanos. E o dinheiro para sempre será a única coisa mais importante para o terceiro mundista.

A era da descartabilidade


O Brasil é uma sociedade treinada para medir os valores apenas em dinheiro e para identificá-los com as etiquetas de preços colocadas em objetos e serviços compráveis e vendáveis. Tudo é mercantilizado, até o conceito amor foi totalmente remodelado sob a forma de consumo. O pretendente, neste contexto, pode ser descartado como um copo de plástico depois de usado.

30.3.25

Liquid love


As consuming (and spending) more than yesterday but (hopefully) not as much as tomorrow becomes the royal road to the solution of all social problems, and as the sky becomes the limit for the pulling power of successive consumer attractions, debt-collector companies, security firms and penitentiary outfits become major contributors to the growth of GNP. It is impossible to measure exactly the enormous and growing part played in pushing the GNP statistics upwards by the stress emitted by the liquid modern consumer’s life-consuming preoccupations.

Liquid love

 

The virtual proximity coin is virtual distance: suspension, perhaps even cancellation, of anything that made topographical closeness into proximity. Proximity no longer requires physical closeness; but physical closeness no longer determines proximity.

It is an open question which side of the coin did the most to make the electronic network and its implements of entry and exit such a popular and eagerly used currency of human interaction. Was it the new facility of connecting? Or was it the new facility of cutting the connection? There is no shortage of occasions when the second feels more urgent, and matters more, than the first.

The advent of virtual proximity renders human connections simultaneously more frequent and more shallow, more intense and more brief. Connections tend to be too shallow and brief to condense into bonds. Focused on the business in hand, they are protected against spilling over and engaging the partners beyond the time and the topic of the message dialled and read – unlike what human relationships, notoriously diffuse and voracious, are known to perpetrate. Contacts require less time and effort to be entered and less time and effort to be broken. Distance is no obstacle to getting in touch – hut getting in touch is no obstacle to staying apart. Spasms of virtual proximity end, ideally, without leftovers and lasting sediments. Virtual proximity can be, both substantively and metaphorically, finished with nothing more than the press of a button.

De la musique


Your could even read me your poetry

Love and capital


Para a época, era um escândalo um homem mais jovem se casar com uma mulher mais velha. Karl Marx era quatro anos mais novo que Jenny von Westphalen. Tal relação entre os sexos ia na contramão às normas de masculinidade. E o interessante dessa história é que antes de formular suas teorias comunistas e da absorção das ideias radicais dos jovens Hegelianos ateus, o casamento de Marx foi sua primeira manifestação de rebelião contra a sociedade burguesa.

"O desprezo pela felicidade não é a condição do realismo; e a cruel miséria de Marx não nos deve fazer esquecer que Jenny von Westphalen era a mais bela jovem de Treves".

 

Dialética da família

Os conservadores têm tradicionalmente ignorado a formação da família e tentado abertamente enfraquecê-la alegando a superioridade patriarcal e as restrições colocada às filhas-fetiches impedindo a realização individual. 

A princesa está proibida de conhecer demônio marxista, nenhum satã da revolta contaminará o sangue puro da minha raça privilegiada, ordena o chefe da família. 

No seio da família tradicional não há tentativa de criar sociedades em outra base ou mesmo melhorar o que há por aí nas esquinas do subdesenvolvimento. É preciso manter as relações de poder e de assujeitamento, garantir o status quo. Para a bela da pequena burguesia conseguir se realizar na vida é necessário submeter-se à decisão do patriarca e reproduzir a relação de subalternidade com veneração. Nada se ganha abandonando o edredom da sagrada família. Nem mesmo uma vaga nalguma estrutura pública em ruínas.


29.3.25

Por que não me ufano


A obsessão do dinheiro e todo o conflito que ela traz consigo imiscuem-se nas relações eróticas mais ternas e nas relações mais sublimes.

Note que hoje temos todas as forças materiais e intelectuais para realizar uma nova sociedade (ou ao menos construir uma boa sociedade), mas por falta de organização e consciência o sistema atual (com suas desigualdades econômicas e desigualdades socioespaciais) continua triunfando. E não nos deixemos enganar quando o capitalismo consegue se reestruturar ou reconverter sob novas formas.

Dialética da família


A infidelidade conjugal, prometida e teorizada como remédio definitivo para a curva natural descendente que está implícita na relação sexual duradoura, coincide paradoxalmente com a mais cínica e vazia prática moral da pequena burguesia. É precisamente o modelo da relação sexual duradoura que mostra claramente como todas as utopias, tão logo se tenta concretizá-las de maneira positiva, resultam coercitivas e, em última instância, reacionárias; para descrever a situação de libertação, elas dispõem apenas de categorias oriundas da reificação e da repressão.

Por que não me ufano


Leve em consideração que uma proposta teórica e política séria de libertação da mulher, de igualdade entre os sexos e de superação da paranoica família pequeno burguesa não está no horizonte do terceiro mundista. E a referência a um futuro onde a qualidade de vida (a construção de uma boa sociedade) seja levado à cabo não passa de uma ilusão.

Inventar novas formas familiais a partir da transformação da totalidade das relações sociais e individuais não será prática do brasileiro, que faz de tudo para manter a ideologia capitalista, para o terceiro mundista o dinheiro é a única coisa mais importante. No Brasil, ninguém irá romper a crosta das relações capitalistas de produção que sufoca as relações humanas.

Dialética da família


Na família socialista o desejo do amor, expressão moral e estética do desejo sexual, assume o primeiro plano antes mesmo das inclinações puramente sociais, como a busca do dever, da dignidade, da beleza, às quais está estreitamente ligado ao desejo do amor. A monogamia socialista deriva diretamente da virtude e não da sua economia.

A família pequeno burguesa é o local onde o fascismo, o velho e o novo, tenta restaurar, mediante a figura do pai, as relações autoritárias que o Estado está democraticamente avocando para si.

Sigmund Freud racionaliza a perseguição dos filhos pelos pais, perseguição que inúmeras vezes chegou à nossa consciência através da mitologia grega mas também - como Lévi-Strauss mostrou exaustivamente - de toda a humanidade, de qualquer época e de qualquer lugar.

A estrutura da família é o resultado do desenvolvimento do capitalismo monopolista. Esposa e cortesã são os polos opostos e complementares da alienação feminina no mundo patriarcal: a esposa troca o prazer pelo sólido ordenamento da vida da posse, enquanto a cortesã - em secreta aliança com ela - volta a submeter à posse o que os direitos da esposa deixam livre, e vende o prazer.

Manifesto del partito comunista


Su che cosa si basa la famiglia odierna, la famiglia borghese? Sul capitale, sul guadagno privato. Nel suo pieno sviluppo la famiglia odierna esiste soltanto per la borghesia; ma essa trova il suo complemento nella forzata mancanza di famiglia dei proletari e nella prostituzione pubblica.

28.3.25

Dialética da família

A família pequeno burguesa é um simples reflexo das relações de produção na sociedade capitalista. A monogamia é falsa e tem como real contrapartida a sua dupla moral: a da prostituição e do adultério para manter as relações de poder e o status quo.


Dialética da família


A família cria o seu próprio inimigo interno contra o que ela mesma oprime e que, ao mesmo tempo, lhe é essencial, o feminino para a manutenção do status quo.

A família burguesa é a institucionalização de uma esfera privada repressora.

A família pequeno burguesa tem um medo da contaminação marxista, a angústia dos pais de ver a prole envolvida em teorias revolucionárias chega a ser divertido.

Modern times


In the age of digitalization, the people is doomed to remain permanently incomplete and unfulfilled – even is now expected to be fixed by the joint efforts of miraculous fitness regimes and wonder drugs.

The combined effect of the poison and the antidote is to keep homo sapiens perpetually exploitation.

When the quality lets you down, you seek salvation on in quantity.

No future


The modern life is fraught with anxiety. There is always a suspicion that one is living a lie or a mistake. People don't trust each other anymore.

Patology


Marital or partnership crises look like specifically modern ailments, in the same way as corruption, cancer, alcoholism and suicide. Worse in underdeveloped countries.

Liquid love

 

The emaciated starvelings amidst the opulence of the consumer feast.

Respect is one edge of a two-edged sword of care, whose other edge is oppression. Indifference and contempt are two reefs on which many an earnest ethical intention has foundered, and moral selves need a lot of vigilance and navigation skills to sail safe between them.


Liquid love


Unfulfilled yearnings, 
love’s frustrations, 
fears of loneliness
and of being hurt, 
hypocrisy. 

Where to find joy, tenderness, affection?

What sunshine do you bring, my brow-eyed woman?


Melancholic woman let’s move to POA.

Hey gothic girl, time flies by. 
We got the same taste.

I see people come and go, living low, in penury 
It is time building a real home.

We're looking for a love that was never in our hearts. 
Are you ready?

Liquid love


The girl just wants to be
left alone with Marx and Engels for a while
she's writing in the style
of any riot girl

Consumerism is not about accumulating goods (who gathers goods must put up as well with heavy suitcases and cluttered houses), but about using them and disposing of them after use to make room for other goods and their uses.

Consumer life favours lightness and speed; also the novelty and variety that lightness and speed are hoped to foster and expedite. It is the turnover, not the volume of purchases, that measures success in the life of homo consumens.



27.3.25

Biopolítica


Love till death us do part, build bridges to eternity, give hostages to fate are illusions. The only important thing is money.

Os amantes, de René Magritte, são dois corpos sem rostos apenas enlaçados pelas convenções da sociabilidade. Os amantes não se amam, não se enxergam, as bocas não se tocam, nenhum dos dois conhece a sensualidade. A paixão frustrada e o desejo sexual reprimido são regras da sociedade vigilante, que controla os namorados. Do encontro dos sexos sufocados não há mais a possibilidade de nascer a cultura, de encantamento com o mundo. A sociedade recomenda trapos e condena a união.

Delusion


The union is illusionary like a beach and the experience is bound to be frustrating in the end.

Liquid love

 

Today, sexuality no longer epitomizes the potential for pleasure and happiness. It is no longer mystified, positively, as ecstasy and transgression, but negatively instead, as the source of oppression, inequality, violence, abuse, and deadly infection.

The entitlements of sexual partners have become the prime site of anxiety. What sort of commitment, if any, does the union of bodies entail? In what way, if any, does it bind the future of the partners? 
 
The fading of sociality skills is boosted and accelerated by the tendency, inspired by the dominant consumerist life mode, to treat other humans as objects of consumption and to judge them after the pattern of consumer objects by the volume of pleasure they are likely to offer, and in ‘value for money’ terms. At best, the others are valued as companions-in-the-essentially-solitary-activity of consumption; fellows in the joys of consumption, whose presence and active participation may intensify those pleasures. In the process, the intrinsic value of others as unique human beings (and so also the concern with others for their own, and that uniqueness’s, sake) has been all but lost from sight. Human solidarity is the first casualty of the triumphs of the consumer market.

Zygmunt Bauman
1925 - 2017

A surplus humanity


Instead of being a focus for growth and prosperity, the cities have become a dumping ground for a surplus population working in unskilled, unprotected and low-wage informal service industries and trade.

Transitional poverty


Slum population, ghetto conditions, poorest city: juxtaposed with the nouveaux riches are the new urban poor.

Transitional poverty


In a dynamic market society cradle-to-grave social security is no longer feasible.

26.3.25

Global inequality


Fetishization of urban productivity

World Bank reconceptualized the public sector as a simple enabler of the marketplace.

The boom in exports all too frequently benefit only a tiny stratum.

The cities display shocking new extremes of overnight wealth and equally sudden misery.

Anti-Oedipus


The forms of social production, like those of desiring-production, involve an unengendered nonproductive attitude, an element of antiproduction coupled with the process, a full body that functions as a socius. This is the body that Marx is referring to when he says that it is not the product of labor, but rather appears as its natural or divine presupposition. In fact, it does not restrict itself merely to opposing productive forces in and of themselves. It falls back on (il se rabat sur) all production, constituting a surface over which the forces and agents of production are distributed, thereby appropriating for itself all surplus production and arrogating to itself both the whole and the parts of the process, which now seem to emanate from it as a quasi cause. Forces and agents come to represent a miraculous form of its own power: they appear to be "miraculated" (miracules) by it. In a word, the socius as a full body forms a surface where all production is recorded, whereupon the entire process appears to emanate from this recording surface. Society constructs its own delirium by recording the process of production; but it is not a conscious delirium, or rather is a true consciousness of a false movement, a true perception of an apparent objective movement, a true perception of the movement that is produced on the recording surface.

De la musique


I'll sing for you

Por que não me ufano


Percebam que a própria solidariedade da família brasileira desmoronou. O que poderia ser uma unidade que apoiava e sustentava os seus membros tornou-se hoje uma unidade cujos membros competem pela sobrevivência, além da competição impiedosa que se tornou norma da economia do mercado informal e formal.

O Brasil tem uma desigualdade econômica tão abissal que não adianta migrar para regiões paupérrimas para economizar despesas com a moradia. Na periferia do capitalismo, vive-se muito abaixo do padrão de vida mínima. É assustador saber que não há projeto para as cidades do terceiro mundo recuperar o terreno e fechar os abismos de desigualdade.

The report show how police (Commissioner De Rochebrune) observed Diderot:


He is a young man who plays the wit and prides himself on his impiety; very dangeorus; speaks of the holy mysteries with scorn. He said that when he gests to the end of his life; he will confess and receive [in communion] what they call god, bur not from any obligation; merely out of regard for his family, so that they will not be reproached with the fact that he died without religion.

25.3.25

Philosophers trim the tree of knowledge


The philosophes persecuted or disdained, they battled alone, fighting for future generations who would grant them the recognition that their contemporaries had refused.

D'Alembert he celebrated the man of letters as the lone warrior in the struggle for civilization, and went on to issue a declaration of independence for gens de lettres as a social group. Although they had been humiliated and ignored, they deserved well of mankind because they had carried the cause of Enlightenment forward since the Renaissance and especially since the reign of Louis XIV, when the "philosophic spirit" began to set the tone in polite society. This view of history owed a great deal to Voltaire, who had proclaimed the importance of men of letters in the Lettres philosophiques (1734) and then identified them with the progressive drive in history in Le siecle de Louis XIV (1751). Voltaire's own contributions to the Encyclop'edie, notably in the article GENS DE LETTRES, developed the same theme and made its implications clear. History advanced through the perfection of the arts and sciences; the arts and sciences improved through the efforts of men of letters; and men of letters provided the motive force for the whole process by functioning as philosophes. "It is this philosophic spirit that seems to constitute the character of the men of letters." The article PHILOSOPHE made much the same point. It was adapted from the celebrated tract of 1743, Le Philosophe, which established an ideal type — the man of letters committed to the cause of Enlightenment. The philosophes came to be recognized or reviled as a kind of party, the secular apostles of civilization, in opposition to the champions of tradition and religious orthodoxy. Many of them contributed to the Encyclopédie — so many, in fact, that Encydopediste and philosophe became virtual synonyms, and both terms crowded out their competitors — savant, érudit, gens d'esprit — in the semantic field covered by the general expression gens de lettres. D'Alembert contributed to this shift in meaning by glorifying his fellow philosophes as the ultimate in gens de lettres, the heirs to Newton and Locke, at the end of the Discours préliminaire. The entire Encyclopédie proclaimed itself to be the work of "a society of men of letters" on its title page, while its friends and enemies alike identified it with philosophie. It seemed to embody the equation civilization = gens de lettres = philosophes and to funnel all the progressive currents of history into the party of Enlightenment.

Robert Darnton