20.11.24

A Idade Média, naturalmente


Comecei a escrever em março de 1978, movido por uma ideia seminal. Eu tinha vontade de envenenar um monge. Creio que um romance possa nascer de uma ideia desse tipo, o resto é recheio que se acrescenta ao longo do caminho. Mais tarde, encontrei um caderno datado de 1975, onde eu tinha estabelecido uma lista de monges de um mosteiro impreciso. Nada mais. A princípio, comecei a ler o Traité des poisons de Orfila - que tinha comprado vinte anos antes de um buquinista às margens do Sena, simplesmente por fidelidade a Huysmans. Como nenhum dos venenos me satisfazia, pedi a um amigo biólogo que me indicasse uma substância que possuísse determinadas propriedades (que fosse absorvível através da pele, ao manusear alguma coisa).

Cosmos

 

In 1971, Uhuru, the first x-ray observatory, discovered a remarkably bright X-ray source in the constellation of Cygnus, flickering on and off a thousand times a second, called Cygnus X-1.

18.11.24

Da ação humana sobre a geografia física

 
Edusp | 2015

Acampando como um viajante de passagem, o bárbaro pilha a terra; explora-a com violência sem lhe devolver em cultura e cuidados inteligentes as riquezas que lhe tomou; ele acaba inclusive, por devastar a região que lhe serve de moradia e torná-la inabitável. O homem verdadeiramente civilizado, compreendendo que seu próprio interesse confunde-se com o interesse de todos e aquele da própria natureza, age completamente diferente. Ele repara os estragos cometidos por seus predecessores, ajuda a terra em vez de encarniçar-se brutalmente contra ele; trabalha pelo embelezamento tanto quanto pela melhoria de sua extensão. Ele não sabe apenas, na qualidade de agricultor e industrial, utilizar cada vez mais os produtos e as forças do globo; ele também aprende, como artista, a dar às paisagens que o cercam mais encanto, graça ou majestade. Tornado "a consciência da terra", o homem digno de sua missão assume por isso mesmo uma parte de responsabilidade na harmonia e na beleza da natureza circundante.

Élisée Reclus | 1864


17.11.24

Forjando a cultura da classe operária


[...]

Não foi uma contribuição europeia que promoveu o movimento trabalhista americano, bem pelo contrário. Mas, quero dizer, essas eram simplesmente reações naturais: não se precisava ter nenhum preparo para entender essas coisas, não era preciso ter lido Marx, nem nada assim. É só que é degradante ter de seguir ordens e ver-se preso a um lugar onde se trabalha como escravo durante doze horas e então ir para um dormitório onde vigiam seu comportamento moral e assim por diante – que é como a coisa era. As pessoas simplesmente encaravam isso como algo degradante. 

Era a mesma coisa com os artesãos, pessoas que trabalhavam por conta própria e então estavam sendo forçadas a trabalhar nas fábricas – elas queriam poder dirigir suas próprias vidas, isto é, sapateiros contratavam pessoas a fim de ler para eles – e isso não significava ler Stephen King, ou algo do gênero, significava ler para valer. Essas eram pessoas que tinham bibliotecas, e elas queriam viver suas vidas, queriam controlar o próprio trabalho, mas estavam sendo forçadas a trabalhar em fábricas de sapatos em lugares como Lowell, onde sequer eram tratados como animais, mas como máquinas. E isso era degradante e humilhante – e elas lutaram contra isso. E, aliás, estavam lutando contra esse sistema de coisas não tanto porque ele reduzisse seu nível econômico, o que não acontecia (na verdade, provavelmente o estava elevando) – era porque ele lhes estava tirando o poder das mãos e subordinando-as a outras pessoas e transformando-as em meras ferramentas de produção. E isso elas não queriam. 

Na verdade, se vocês quiserem ler algo realmente interessante, um livro que eu sugeriria é o primeiro que foi escrito sobre a história do trabalhismo – o primeiro mesmo, eu acho. Saiu em 1924 e acaba de ser reeditado em Chicago: chama-se The Industrial Worker, de Norman Ware, e consta principalmente de excertos da imprensa trabalhista independente dos Estados unidos de meados do século XIX. Vejam, havia uma grande imprensa trabalhista independente nos Estados Unidos nessa época – era mais ou menos na escala da imprensa capitalista, na verdade – e era dirigida pelas chamadas “operárias” ou por artesãos. E é extremamente interessante de se ler. 

Em pleno século XIX, os trabalhadores nos Estados Unidos estavam lutando contra a imposição do que descreviam como “degradação”, “opressão”, “escravidão do salário”, ‘privar-nos de nossos direitos elementares”, tudo que hoje chamamos de capitalismo moderno (que é na verdade o capitalismo de Estado) foi combatido por eles durante um século inteiro – e muito encarniçadamente; essa foi uma luta extremamente dura. E estavam lutando por “republicanismo trabalhista” – vocês sabem: “Vamos voltar ao tempo em que éramos gente livre.” “Trabalho” significa apenas “gente”, afinal de contas. 

E, de fato, eles estavam lutando também contra a imposição do sistema de educação pública em massa – e com muita razão, porque entendiam exatamente o que isso significava: uma técnica para arrancar à força a independência da cabeça dos agricultores e transformá-los em operários fabris dóceis e obedientes. Foi por isso que, no final de contas, a educação pública foi instituída nos Estados Unidos, para início de conversa: para atender às necessidades da indústria emergente. Vejam, parte do processo de tentar desenvolver uma força de trabalho degradada e obediente era tornar os operários burros e passivos, e a educação em massa era um dos meios pelos quais isso era alcançado. E, é claro, havia também um esforço muito mais amplo para destruir a cultura intelectual independente da classe operária, que havia se desenvolvido, e que ia do total uso da força até técnicas mais sutis, como propaganda e campanhas de relações públicas. 

E esses esforços na verdade se conservavam até os dias de hoje. Então, sindicatos trabalhistas foram praticamente liquidados nos Estados Unidos, em parte por uma enorme quantidade de propaganda empresarial, que ia do cinema e quase tudo, e passando por vários outros meios também. Mas o processo todo levou muito tempo – tenho idade suficiente para me lembrar de como era a cultura da classe operária nos Estados Unidos: ainda existia um alto nível dela quando eu estava crescendo, no final dos anos 1930. Levou muito tempo para arrancá-la da cabeça dos operários e transformá-los em ferramentas passivas; levou muito tempo para fazer as pessoas aceitarem que esse tipo de exploração é a única alternativa, e então era melhor simplesmente esquecerem sobre seus direitos e dizerem; “Está bem, sou um degradado.” 

Então, a primeira coisa que tem de acontecer, eu acho, é termos de recuperar parte dessa antiga compreensão. Isto é, tudo começa com mudanças culturais. Temos que desmantelar esse negócio todo culturalmente: temos que mudar a mente das pessoas, seu espírito e ajuda-las a recuperar o que era de entendimento comum em um período mais civilizado, como um século atrás nos galpões das fábricas de Lowell. Se esse tipo de entendimento podia ser natural entre uma grande parte da população em geral no século XIX, pode voltar a ser natural agora. E é algo em que temos realmente de trabalhar hoje.

Noam Chomsky
Tradução: Eduardo F. Alves


Bibliografia

A cidade contém: populações excedentárias, satélites da grande indús­tria, «serviços» de toda a espécie (dos melhores aos piores). Sem esquecer os aparelhos administrativos e políticos, os buro­cratas e os dirigentes, a burguesia e os seus séquitos. Por con­sequência, cidade e sociedade marcham lado a lado e confundem-se, visto que a cidade acolhe no seu seio, como «cidade­ capital», o próprio poder capitalista, o Estado. É neste qua­dro que se opera a repartição dos recursos da sociedade, prodigioso misto de sórdido cálculo e de insensato desperdício.

Interrogamos os textos em nome do presente e do possível, o que é precisamente o método de Marx e o que ele indica a fim de que o passado (aconteci­mentos e documentos) reviva e sirva o futuro. 


Henri Lefebvre
1901 - 1990

Por que não me ufano

Os habitantes dos bairros pobres do Paraná pouco dão entre si. Poucas são as pessoas que se cumprimentam na rua e até mesmo à beira-mar. E menos ainda conseguem entabular uma conversação porque não têm nada a acrescentar, afinal, o que poderia sair da cabeça dos colonizados carentes de fundamento e condicionados pelas músicas vulgares da indústria cultural? 

A relação entre os vizinhos, que foram divididos em lotes desiguais, andei observando, é tensa e desarmoniosa, muito ruidosa e, quando muito, hostil. A deseducação é o hábito dos cristãos e ninguém irá mudar essa condição patológica do terceiro mundista. A escola não cumpriu a sua função de desenvolver uma população inteligente e moderna e a vida universitária é uma ilusão. 


The lives of the stars


Cosmic rays, mainly electrons and protons, have bombarded the Earth for the entire history of life on our planet. A star destroys itself thousands of light-years away and produces cosmic rays that spiral through the Milky Way Galaxy for millions of years until, quite by accident, some of them strike the Earth, and our hereditary material. Perhaps some key steps in the development of the genetic code, or the Cambrian explosion, or bipedal stature among our ancestors were initiated by cosmic rays.

Neutron star matter weighs - about the same as an ordinary mountain per teaspoonful - so much that if you had a piece of it and let it go (you could hardly do otherwise), it might pass effortlessly through the Earth like a falling stone through air, carving a hole for itself completely through our planet and emerging out the other side - perhaps in China. People there might be out for a stroll, minding their own business, when a tiny lump of neutron star plummets out of the ground, hovers for a moment, and then returns beneath the Earth, providing at least a diversion from the routine of the day.

The awesome power of the neutron star is lurking in the nucleus of every atom, hidden in every teacup and dormouse, every breath of air, every apple pie. The neutron star teaches us respect for the commonplace.

A star like the Sun will end its days, as we have seen, as a red giant and then a White dwarf. A collapsing star twice as massive as the Sun will become a supernova and then a neutron star. But a more massive star, left, after its supernova phase, with, say, five times the Sun’s mass, has an even more remarkable fate reserved for it - its gravity will turn it into a black hole.

Carl Sagan
1934 - 1996

The philosophy of Marx


Alienation means the forgetting of. the real origin of ideas or generalities, but it also means inversion of the 'real' relationship between individuality and community. The splitting up of the real community of individuals is followed by a projection or transposition of the social relation onto an external 'thing', a third term. Only, in the one case, that thing is an 'idol', na abstract representation which seems to exist all on its own in the ethereal realm of ideas (Freedom, Justice, Humanity, Law), whereas in the other it is a 'fetish', a material thing which seems to belong to the earth, to nature, while exerting an irresistible power over individuals (the commodity and, above all, money).

16.11.24

The decisive moment


Sometimes it happens that you stall, delay, wait for something to happen. Sometimes you have the feeling that here are all the makings of a picture - except for jus one thing that seems to be missing. But what one thing? Perhaps someone suddenly walks into your range of view. You follow his progress through the view-finder. You wait and wait, and then finally you press the button - and you depart with the feeling (thought you don't know why) that you've really got something.

Henry Cartier-Bresson
1908 - 2004

A razão gulosa


Na falta de certezas sobre o além e suas promessas de felicidade - os édens alimentares e nutritivos, sexuais e bucólicos, líquidos e sensuais - os cristãos, e mesmo os que não o eram, frequentemente usaram e abusaram da pátria sublime, da alma ardente do vinho, da quinta-essência ou da água de fogo, também dita água de ouro ou permanente. De modo que, enquanto esperavam a vida eterna e a felicidade dos anjos, os homens pediram muitas vezes à aguardente os transportes que a teologia, se não os roteiros da Igreja, não lhes permitiam. Tem-se a água lustral que se pode...

No corpo do alcoólatra habituado a substâncias temperadas estão instaladas e sedimentadas as partes voláteis dos aromas. Imputrescíveis, elas marcam a carne, fazem dela matéria explosiva. Beber álcool é transformar-se em álcool e, portanto, arriscar-se a explodir se as condições se apresentarem. A leitura sumária do real, a teoria dos fluidos e a dos humores hipocráticos provocam ilusões substancialistas e animistas que os higienistas, dietistas, médicos e cientistas, agindo de par com as autoridades políticas, mais ou menos voluntariamente exploram um terreno ideológico.

O corpo é uma alambique, uma máquina que destila e transforma as moléculas alcoólicas em explosivos potenciais. A carne é um reservatório desses perigos; o fogo, uma danação consubstancial com o pecado dos que preferem a aguardente, e seus efeitos imanentes, à água benta, cuja eficiência muitas vezes demora a aparecer. No mal-estar que se expressa no amante de álcoois destilados, aflora a dor de ser, o sofrimento existencial que consolos excessivamente celestiais não consegue vencer. A sanção médica é também teológica: o fogo aguarda os que pecaram bebendo, porque liberaram suas energias animais, solicitaram perigosamente de seus espíritos vitais, renderem-se à sua parte dionisíaca.

A aguardente é bebida de vitalidade, de substâncias miríficas, pelos efeitos rápidos e seguros que produz. Eis, aliás, as razões por que é mais suspeita que as demais bebidas alcóolicas: ela é veículo diligente, presto e lesto que conduz a esferas onde dançam o ar as almas. O espírito etílico é semelhante ao éter. Derramado numa mesa, molhado na trama de um pano, espalhado no dorso da mão, ele se consome sem chama nem calor, desaparece na transparência; absorvido pelo ar, a este misturado, ascende às regiões celestiais, onde certamente encontrará as destilações dos destilados, os espíritos do espírito já quinta-essenciado. Sempre mágico, o evaporado é a prova de um céu, por supor um espaço que se alimente dos vapores alcoólicos. Nos limbos do céu mora o restante da parte dos anjos.


15.11.24

Planet of slums


A segregação urbana não é um status quo inalterável, mas sim uma guerra social incessante na qual o Estado intervém regularmente em nome do "progresso", do "embelezamento" e até da "justiça social para os pobres", para redesenhar as fronteiras espaciais em prol de proprietários de terrenos, investidores estrangeiros, a elite com suas casas próprias e trabalhadores de classe média. Como na Paris da década de 1860 sob o reinado fanático do barão Haussmann, a reconstrução urbana ainda luta para maximizar ao mesmo tempo o lucro particular e o controle social. A escala contemporânea de remoção populacional é imensa: todo ano centenas de milhares, por vezes milhões de pobres - tanto aqueles que têm a posse legal quanto os invasores - são despojados à força de bairros do Terceiro Mundo. Em consequência, os pobres urbanos são nômades, "moradores transitórios num estado perpétuo de realocação".

Nas grandes cidades do Terceiro Mundo, o papel panóptico coercitivo de "Haussmann" costuma ser desempenhado por órgãos especializados de desenvolvimento; subvencionados por financiadores estrangeiros como o Banco Mundial e imunes aos vetos locais, a sua tarefa é limpar, construir e defender ilhas de cibermodernidade em meio a necessidades urbanas não atendidas e ao subdesenvolvimento em geral.

14.11.24

Mini galeria de perguntas meramente retóricas

Quais são as cidades brasileiras onde a qualidade de vida seja real, que são boas para caminhar e pedalar, que são boas para permanecer, que são boas para encontrar pessoas esclarecidas, que sejam expressivas e belas, que possam nos proporcionar boas experiências?


Por que não me ufano


Notem como os incompetentes treinados estão ocupando os territórios na periferia do capitalismo. Livro sobre cidades ideais, arquiteturas modernas não faltam. Os modelos das cidades brasileiras são subdesenvolvidos com princípios desiguais e sem planejamento urbano de qualidade. 

Que sedução pode haver nas cidades?

O Brasil tem como único projeto sociopolítico a perpetuação da miséria e da ignorância.

Por que não me ufano

 

Ponto de ônibus no primeiro mundo. No Brasil, uma estrutura assim é impensável, primeiro porque o populacho não lê, segundo qualquer arquitetura distinta e atraente seria vandalizada pela xucrada e por último, os servidores municipais carecem de projeto gráfico, conhecimento estético e iniciativa própria.

Arquitetura moderna


Vila Modernista, São Paulo, desenhada pelo arquiteto Flávio de Carvalho

1936-1938

 

Reference

 

Huxley was always concerned with perfection of achievement and discovery, not only in the arts but also in the science.

Referência acadêmica

 

A bióloga Lynn Margulis
1938 - 2011

13.11.24

Marxism


In Marx´s notebook, there is a Plan of the Library of the Best Foreign Socialist Writers, that he designed with Engels and Hess in 1845.

If you are grow up, and attuned to a world full of complexity and ambiguity, you may find that Marx fits you better than you thought.

Wherever Marx comes up, brazilian's level of though and writing drop precipitously to the level of the Cold War polemics of few decades ago.

The problem of brazilians with Marx is: hostility to theory.

O universo inesperado


A Arqueologia é a ciência da tarde do homem, não é a dos seus triunfos do meio dia. Falei da minha visita a um pântano engrinaldado de chamas, ao cair da noite. Tudo nele havia sido substância, matéria, fios pendentes, velhos envoltórios de sanduíches, presentes quebrados e armações de camas de ferro. Entretanto, nada havia presente que a Ciência não pudesse reduzir aos seus elementos, nada que não fosse produto do mundo urbano, cujas torres distantes se erguiam, trêmulas, na obscuridade, além do charco. Lá, no depósito de lixo da cidade, jaziam os surrados destroços da vida: o fragmento brilhante de um velho disco que roubara um coração humano, flores murchas entre latas amolgadas de cerveja, a faca abandonada de um assassino, ao lado de uma colher quebrada. Era tudo um labirinto de invisíveis e flutuantes conexões, e o seria até que perecesse o ultimo homem. Todos esses materiais abandonado já tinham sido sujeitos ao poder dissolvente da mente humana. Haviam sido arrancados de veios profundos de rochas, fervidos em grandes cadinhos e transportados a milhas de distância das suas origens. Tinham assumido formas que, se bem materiais, haviam existido primeiro como projetos na profunda escuridão de um cérebro vivo. Tinham sido definidos antes da sua existência, nomeados e afeiçoados no sopro de ar que denominamos palavra. Essa palavra fora evocada numa caixa craniana que, com todos os seus poderes contidos e ocultos paradoxos, surgira de maneiras que só podemos retraçar vagamente. Afirma-se que Einstein, de uma feita, teria dito que se recusava a acreditar que deus jogasse dados com o universo. Ao examinarmos, porém, o longo curso retrospectivo da História, diríamos que a liberdade do tempo, inesperadamente, é um elemento essencial da sua criação. Toda vez que nasce uma criança, os dados, na forma de genes, de enzimas e dos intangíveis do meio casual, estão sendo rolados outra vez, como quando a figura encardida do fogo sibilou ao meu ouvido a tragédia dos recém-nascidos desamparados da cidade. Cada um de nós é uma impossibilidade estatística, em torno da qual paira um milhão de outra vidas, destinadas a não nascer - que, todavia, não se manifestam, um potencial escondido no escuro depósito do vazio.


Loren Eiseley
1907 - 1977

Saudações aos rios

 

Ailton Krenak levanta uma importante questão: será que vamos matar todos os rios? 

O governo e as atividades criminosas da sociedade (garimpo, agronegócio, agropecuária) continuam a não reconhecer a Natureza como sujeito de direito, mas tratam-na com desrespeito ou apenas como um corpo a ser explorado. O Tietê, por exemplo, foi convertido em esgoto.

Sejamos água.

11.11.24

The Lives of the Stars


A star is a kind of cosmic kitchen inside which atoms of hydrogen are cooked into heavier atoms. Stars condense from interstellar gas and dust, which are composed mostly of hydrogen. But the hydrogen was made in the Big Bang, the explosion that began the Cosmos. If you wish to make an apple pie from scratch, you must first invent the universe.

Fire is not made of chemical elements at all. It is a radiating plasma in which the high temperature has stripped some of the electrons from their nuclei.

The fact that atoms are composed of three kinds of elementary particles - protons, neutrons and electrons is a comparatively recent finding. The neutron was not discovered until 1932. Modern physics and chemistry have reduced the complexity of the sensible world to an astonishing simplicity: three units put together in various patterns make, essentially, everything.

The universe, all of it, almost everywhere, is 99 percent hydrogen and helium, the two simplest elements. Helium, in fact, was detected on the Sun before it was found on the Earth - hence its name (from Helios, one of the Greek sun gods).

In nature, such high temperatures and attendant high pressures are common only in the insides of the stars.

We have examined our Sun, the nearest star, in various wavelengths from radio waves to ordinary visible light to X-rays, all of which arise only from its outermost layers. It is not exactly a red-hot stone, as Anaxagoras thought, but rather a great ball of hydrogen and helium gas, glowing because of its high temperatures, in the same way that a poker glows when it is brought to red heat. Anaxagoras was at least partly right. Violent solar storms produce brilliant flares that disrupt radio communications on Earth; and immense arching plumes of hot gas, guided by the Sun’s magnetic field, the solar prominences, which dwarf the Earth. The sunspots, sometimes visible to the naked eye at sunset, are cooler regions of enhanced magnetic field strength.

Há 23 horasAll this incessant, roiling, turbulent activity is in the comparatively cool visible surface. We see only to temperatures of about 6,000 degrees. But the hidden interior of the Sun, where sunlight is being generated, is at 40 million degrees.

Thermonuclear reactions like those in a hydrogen bomb are powering the Sun in a contained and continuous explosion, converting some four hundred million tons (4 x 1014 grams) of hydrogen into helium every second. When we look up at night and view the stars, everything we see is shining because of distant nuclear fusion.

In the direction of the star Deneb, in the constellation of Cygnus, is na enormous glowing superbubble of extremely hot gas, probably produced by supernova explosions, the deaths of stars, near the center of the bubble. At the periphery, interstelar matter is compressed by the supernova shock wave, triggering new generations of cloud collapse and star formation. In this sense, stars have parents; and, as is sometimes also true for humans, a parent may die in the birth of the child.

Stars like the Sun are born in batches, in great compressed cloud complexes such as the Orion Nebula. Seen from the outside, such clouds seem dark and gloomy. But inside, they are brilliantly illuminated by the hot newborn stars. Later, the stars wander out of their nursery to seek their fortunes in the Milky Way, stellar adolescents still surrounded by tufts of glowing nebulosity, residues still gravitationally attached of their amniotic gas. The Pleiades are a nearby example.

As in the families of humans, the maturing stars journey far from home, and the siblings see little of each other. Somewhere in the Galaxy there are stars - perhaps dozens of them - that are the brothers and sisters of the Sun, formed from the same cloud complex, some 5 billion years ago. But we do not know which stars they are. They may, for all we know, be on the other side of the Milky Way.

All the elements of the Earth except hydrogen and some helium have been cooked by a kind of stellar alchemy billions of years ago in stars, some of which are today inconspicuous white dwarfs on the other side of the Milky Way Galaxy. The nitrogen in our DNA, the calcium in our teeth, the iron in our blood, the carbon in our apple pies were made in the interiors of collapsing stars. We are made of starstuff.

Latifúndio da comunicação


O espaço jornalístico deveria ser usado para retratar a realidade em palavras factualmente precisas e coerente e não recinto para dar voz a um fascista.

A linguagem deve exprimir o que quer que deseje, a linguagem deve ser usada para construir uma boa sociedade, ela deve ser usada para desenvolver o imaginário e não ser usada para ocultar, para mentir e para trapacear.

10.11.24

Porque ler os clássicos


No caminho para a casa da rapariga dos óculos escuros atravessaram uma grande praça onde havia grupos de cegos que escutavam os discursos doutros cegos, à primeira vista nem uns nem outros pareciam cegos, os que falavam viravam inflamadamente a cara para os que ouviam, os que ouviam viravam atentamente a cara para os que falavam. Proclamava-se ali o fim do mundo, a salvação penitencial, a visão do sétimo dia, o advento do anjo, a colisão cósmica, a extinção do sol, o espírito da tribo, a seiva da mandrágora, o unguento do tigre, a virtude do signo, a disciplina do vento, o perfume da lua, a reivindicação da treva, o poder do esconjuro, a marca do calcanhar, a crucificação da rosa, a pureza da linfa, o sangue do gato preto, a dormência da sombra, a revolta das marés, a lógica da antropofagia, a castração sem dor, a tatuagem divina, a cegueira voluntária, o pensamento convexo, o côncavo, o plano, o vertical, o inclinado, o concentrado, o disperso, o fugido, a ablação das cordas vocais, a morte da palavra, Aqui não há ninguém a falar de organização, disse a mulher do médico ao marido, Talvez a organização seja noutra praça, respondeu ele.

...

Atravessaram uma praça onde havia grupos de cegos que se entretinham a escutar os discursos doutros cegos, à primeira vista não pareciam cegos nem uns nem outros, os que falavam viravam inflamadamente a cara para os que ouviam, os que ouviam viravam atentamente a cara para os que falavam. Proclamavam-se ali os princípios fundamentais dos grandes sistemas organizados, a propriedade privada, o livre câmbio, o mercado, a bolsa, a taxação fiscal, o juro, a apropriação, a desapropriação, a produção, a distribuição, o consumo, o abastecimento e o desabastecimento, a riqueza e a pobreza, a comunicação, a repressão e a delinquência, as lotarias, os edifícios prisionais, o código penal, o código civil, o código das estradas, o dicionário, a lista de telefones, as redes de prostituição, as fábricas de material de guerra, as forças armadas, os cemitérios, a polícia, o contrabando, as drogas, os tráficos ilícitos permitidos, a investigação farmacêutica, o jogo, o preço das curas e dos funerais, a justiça, o empréstimo, os partidos políticos, as eleições, os parlamentos, os governos, o pensamento convexo, o côncavo, o plano, o vertical, o inclinado, o concentrado, o disperso, o fugido, a ablação das cordas vocais, a morte da palavra. Aqui fala-se de organização, disse a mulher do médico ao marido, Já reparei, respondeu ele, e calou-se.


José Saramago
1922 - 2010

8.11.24

Em louvor ao papel


Harvard: conservators repair books

Como nos conta Robert Darnton, em seu ensaio O que é a história do livro?, os leitores do século XVIII não apenas davam atenção para a mensagem verbal do livro, mas também para o seu material: 
Os leitores discutiam o grau de brancura, a textura e a elasticidade do papel. Eles empregavam um rico vocabulário estético para descrever suas qualidades, tal como o fazem hoje em relação ao vinho.
Claro, ainda há outros estágios no ciclo de vida de uma edição, como os fenômenos da preservação, da evolução na história do livro e o que os leitores fazem dele.

Em muitos espaços do mundo, lá está a obra, em seu aspecto físico, como elemento essencial no desenvolvimento da cultura.


Analfabetismo


Os analfabetos secundários com spray não conseguem levantar um problema, mas gastam tinta a toa ao escrever nos muros da periferia "você está preparado para a volta de Gêzuiz?"

O sujeito-pixador do terceiro mundo necessita urgente de teoria marxiana.

Emptiness

Pixaram em Ipanema, maldito vazio, que pode ser traduzido por vazio cultural.

7.11.24

Por que não me ufano


Está faltando contagiar os brasileiros com boa literatura e boa música.

Let's play that


Em O segundo diário mínimo, Umberto Eco dedica um capítulo a Jogos de palavras, num desses desafios, a ideia é sintetizar a vida de um personagem usando apenas palavras com a inicial da figura:

Chomksy. Cerebral competente challenges colorless chlorophyllian cholerically comatose concepts.

Heidegger. Haver habitat, húmus: Heimat. Happening? Handicap. Heil Hitler!

Feuerbach. Fins fabulosos fingidos. Finas finórias.

Marx. Meu manifesto mostra meta materialista. Miseráveis mal-interpretados, movei-vos, militantes! Moloch maxicapitalista maquina meios malévolos. Morrei, mas mostrai majestade miniproletária!

Kant. Kem koncordaria ke kategorias krescessem kvantitativamente?

Nietzche. Nômade neurastênico, não-normal, nego normas naturais, nulifico Nazarenos. Nirvana? Nada! Nomeio novo niilismo. Narro nostálgico nascimento ninfas. Necessidade nibelúngica.

Russell. Radical, refuto reacionários radiativos, rejeito religiões. Retifico regras, resolvo raízes, regulo relações, represento referentes.

Spinoza. Substância sacra, simples secreção. Sem semovimento, sempiterna serenidade.

Unamuno. Último ultramontano, um umbrátil ultor úlcera união universal.

6.11.24

Por que não me ufano

 

O movimento fascista no Brasil tem amplo apoio no meio das massas, com novos empreendedores. É um movimento plebeu e cristão, mas direcionado e financiado por grandes poderes capitalistas. Ele surge da pequena-burguesia e alta burguesia e dos setores da classe média. É um elemento fundamental da superestrutura do Estado para a perpetuação da miséria.

Your Decision

 

Time to change has come and gone
Watched your fears become your god
Overwhelmed, you chose to run
Apathetic to the stunt

Alice in Chains


4.11.24

Breve história da democracia

Marcada a existência da família como forma de poder
 não pode haver democracia.

Conservando as marcas da sociedade colonial escravista e patrimonialista, a sociedade brasileira é marcada pelo predomínio do espaço privado sobre o público. É fortemente hierarquizada em todos os seus aspectos: as relações sociais e intersubjetivas são sempre realizadas como relação entre um superior, que manda, e um inferior, que obedece. As diferenças e assimetrias são sempre transformadas em desigualdades que reforçam a relação de mando-obediência.

O outro jamais é reconhecido como sujeito, tanto no sentido ético quanto no sentido político, jamais é reconhecido como subjetividade nem como alteridade e muito menos como cidadão. As relações, entre os que julgam iguais, são de "parentesco" ou "compadrio", isto é, de cumplicidade; e, entre os que são vistos como desiguais, o relacionamento toma a forma do favor, da clientela, da tutela ou da cooptação; e, quando a desigualdade é muito marcada, assume a forma de opressão.

Podemos, portanto, falar em autoritarismo social como origem e forma da violência no Brasil. Situação, agora, ampliada e agravada pela política neoliberal, que não faz senão aprofundar o encolhimento do espaço público dos direitos e o alargamento do espaço privado dos interesses do mercado ao desviar o fundo público, destinado aos direitos sociais, para financiar o capital, de tal maneira que tais direitos são privatizados ao serem transformados em serviços vendidos e comprados no mercado, aumentando exponencialmente a divisão social e a desigualdade das classes sociais.

Marilena Chauí

2.11.24

Literatura brasileira

1918 - 2017

Entabular com a obra de Antonio Candido significa entrar de corpo inteiro numa longa mania bibliográfica. Os contos A armadilha, O ex-mágico da Taberna Minhota, Teleco, o coelhinho, são os meus preferidos do Murilo Rubião, esse extraordinário explorador do insólito.

31.10.24

Periferia da superstição


A religião inverteu o progredir da razão para o ininteligível, as mentiras teológicas produziram ilusões e apagaram os conceitos. A religião atrofiou a capacidade de abstração do terceiro mundista e com ela toda a sua capacidade de compreender, imaginar e falar com fundamento.

Por que não me ufano


De nada adianta uma escola estadual receber o nome de Paulo Freire se as pessoas continuam devotas da família massa e do miliciano fundamentalista e ouvindo música bosta e a desigualdade socio espacial um projeto urbano. Pura fachada. A educação universal não forma eleitores conscientes e cidadãos com consciência de classe e muito menos exímios conferencistas. A falação de merda do Ratinho tem mais influência do que todo o sistema educacional. Seria mais honesto com vocês mesmos se todas as escolas chamassem Boteco do Ratinho.

Por que não me ufano

Os fascistas na folha de pagamento das estruturas públicas e a senzala rezando e falando merda. A classe dominante usa o Estado para perpetuar a miséria e concentrar mais poder e mais renda e os escravos continuam desorganizados esperando gêzuiz cair do céu.


Por que não me ufano


O problema de fundo é a internet que fabricou um homem que não lê, que revela um alarmante entorpecimento mental, um molóide criado pelo audiovisual de baixa qualidade, um viciado no discurso motivacional, um influenciado pelos faladores de merda, um eleitor sem consciência de classe.

30.10.24

O mundo assombrado pelos demônios



Não é preciso um diploma de nível superior para conhecer a fundo os princípios do ceticismo. A ideia da aplicação democrática do ceticismo é que todos deveriam ter as ferramentas essenciais para avaliar efetiva e construtivamente as alegações de quem se diz possuidor do conhecimento. O que a ciência exige é tão somente que façamos uso dos mesmos níveis de ceticismo que empregamos ao comprar um carro usado ou ao julgar a qualidade dos analgésicos ou da cerveja pelos seus comerciais na televisão.

Mas as ferramentas do ceticismo em geral não estão à disposição dos cidadãos de nossa sociedade. Mal são mencionadas nas escolas, mesmo quando se trata da ciência, que é seu usuário mais ardoroso, embora o ceticismo continue a brotar espontaneamente dos desapontamentos da vida diária. A nossa política, economia, propaganda e religiões (Antiga e Nova Era) estão inundadas de credulidade. Aqueles que têm alguma coisa para vender, aqueles que desejam influenciar a opinião pública, aqueles que estão no poder, diria um cético, têm um interesse pessoal em desencorajar o ceticismo.

Carl Sagan
1934 - 1996

28.10.24

Por que não me ufano


A extrema direita está utilizando as tecnologias da comunicação digital para agenciar uma micropolítca dos afetos tristes (frustação, ódio, angústia, medo) com a macropolítica de um novo fascismo que está dando consistência às subjetividades devastadas na financeirização e às fantasias conspiratórias.

La cérémonie des adieux


O enterro do filósofo, romancista, dramaturgo, jornalista e militante Jean-Paul Sartre (1905 - 1980) mostra o amor da sociedade francesa pelo intelectual existencialista. Uma imensa multidão acompanhou o cortejo fúnebre. Simone de Beauvoir relata 50.000 pessoas. O cineasta e amigo de Sartre, Lanzmann, disse que seria a última manifestação de 1968.

Sartre achava que a ligação do povo e dos intelectuais, que existia no séc. XIX, deveria voltar a existir novamente.

27.10.24

The Smiths


Stop me if you think that you've heard this one before: nothing’s changed.

Black bird in beach

 
Primavera | 2024

26.10.24

Por que não me ufano


Analisou muito bem Darcy Ribeiro, a classe dominante está enferma de desigualdade. Os senhores e seus descendentes estão condenados a degradantes mantenedores da desigualdade e da opressão.

As instituições brasileiras, que não são nada democráticas, mas antes uma ordenação oligárquica, são usadas para justificar novas formas de exercício de poder pela classe dominante.

25.10.24

Teocracia

Se o ministério público (entre outras estruturas públicas) mostra-se nitidamente comprometido com a religião, quem são os "profissionais" dispostos a promover a laicidade do Estado brasileiro? Haverá qualificados para tal engajamento?


24.10.24

Teocracia


O poder político está sendo justificado por ideologias religiosas. Nesse sentido, o governo irá privilegiar os grupos religiosos em detrimento dos não religiosos. É perigoso, porque dá liberdade para perseguir qualquer opositor às mentiras teológicas que perpetuam a miséria.

Se o Estado tem preferência a qualquer grupo religioso e despreza os não religiosos, não há igualdade. Para sermos todos iguais perante o Estado, é imprescindível que ele seja neutro com relação à religião.

A violação do Estado Laico é uma prática constante dos políticos da periferia. O Estado sistematicamente cria preferidos e preteridos, cidadãos de primeira e de segunda categoria. Tal desrespeito deveria ser combatida pela sociedade e, principalmente, pelas autoridades constituídas, mas parece que todos foram corrompidos.

Corrobora-se, no Brasil o Estado Laico é um conceito absolutamente ilusório.

Teocracia


A educação brasileira é tão ruim que não aborda as críticas à religião. Antes há mais proselitismo religioso e constrangimento aos pais que não desejam o ensino religioso aos seus filhos. A educação nacional não forma sequer eleitores conscientes e muito menos corpos críticos.

É fato que professores fazem orações e proselitismo religioso em sala de aula. O ensino religioso é um instrumento dos "professores" sequestrar o espaço escolar em benefício dos interesses da sua fé particular.

Teocracia


Enquanto se nega a complexidade das teorias marxistas para a população, a religião vai ampliando seu poder de alienação e os faladores de merda continuarão influenciando a xucrada. Nesse contexto, o Estado continuará a ser facilmente comandado por fascistas.

Uma imagem na qual se observa Nunes, Tarcísio e o pastor Waldemiro (que tem problemas na justiça) revela como o Estado está a serviço de um projeto de dominação religiosa.

23.10.24

Latifúndio da comunicação


O que as criadoras de conteúdo digital estão criando?


Por que não me ufano


A perpetuação da miséria é o maior e único projeto brasileiro. Os vulneráveis estão condicionados a aceitar as mentiras teológicas e a classe dominante sabe muito bem instrumentalizar essa mentira.

Em época de eleição é notável o político profissional da periferia falar em união. Puro embuste. A população já está dividida. Existem aqueles que possuem e os despossuídos, os instruídos e os carentes de instrução, os ricos e os pobres, os dominados e os dominantes.

Para que votar, se nada muda? O Estado é somente usado para enriquecimento privado e extensão de poder político.

Como justificar uma biblioteca particular


O segundo choque da obviedade sobrevém a muitos que se encontram em condições iguais às minhas, ou seja, que possuem uma biblioteca de certas dimensões - de tal maneira que, entrando em nossa casa, as pessoas não tenham como deixar de notá-la, inclusive porque nossa casa não contém muitas outras coisas. O visitante entra e diz: "Quantos livros! Já leu todos?" No início eu achava que esta frase só fosse pronunciada por pessoas de escassa intimidade com o livro, acostumadas a ver apenas estantezinhas com cinco livros policiais e mais uma enciclopédia infantil em fascículos. Mas a experiência me ensinou que também é pronunciada pelas pessoas mais inesperadas. Pode-se dizer que se trata quase sempre de pessoas que concebem as estantes como mero depósito de livros lidos e não a biblioteca como instrumento de trabalho, mas isto não bastaria. Estou convencido de que, quando se vê diante de muitos livros, qualquer pessoa é tomada pela angústia do conhecimento, e fatalmente resvala para a pergunta que exprime seu tormento e seus remorsos.

Umberto Eco
1932 - 2016

22.10.24

Teocracia


É preciso manter conectada a religião com a política para a perpetuação da miséria.

Por que não me ufano

Livraria é uma estrutura que não faz parte da vida do paranaense, mas as mentiras teológicas dominam os ignorantes com título de eleitor. Tiraram o consumo do saber fundamentado e colocaram no poder o conteúdo reducionista da rede massa.

Não são apenas os livros que os colonizados da família massa odeiam, mas todo um saber fundamentado e crítico. Qualquer pessoa que não colabore com a falação de merda entra imediatamente no radar de ódio dos peões do boteco do ratinho.

No mais, o brasileiro precisa deixar de ser mentiroso e cuzão e começar a falar a verdade sobre as suas biqueiras.


21.10.24

Por que não me ufano


No Brasil, o projeto político está metamorfoseado de evangelização. Há uma diferença: evangelizar é dizer mentiras para a população. Fazer política é conquistar o poder para defender a verdade, o saber, distribuir melhor a riqueza, modernizar, etc. 

A política identitária é válida quando tem como objetivo reparar grandes erros históricos, mas perde o valor quando seus militantes são vulgares e apenas fazem gestos vazios de reconhecimento e celebração.

Por que não me ufano


A política brasileira está em crise: uma crise de imaginação e de ambição da parte de seus cidadãos. Uma crise de adesão e confiança à construção de uma boa sociedade moderna. O Estado não pode ser mais usado apenas para enriquecimento privado e concentração de poder político.

Por que não me ufano

No mínimo é curioso: na democracia brasileira as funcionárias do estado não podem se expressar criticamente a respeito do governo sem estar expostas constantemente a todo tipo de assédio.


Onde estamos agora


Donald Trump é o cruzamento freak entre um evento de luta livre profissional e uma reunião de supremacistas brancos. O mestre de todas as coisas falsas: lutas falsas, reality shows falsos, notícias falsas e todo seu falso modelo de negócios. O artifício é: encenar e divertir as massas.

O grande embusteiro


Trump ao entregar lanche no McDonalds realizou mais uma jogada de marketing político, semelhante ao miliciano dos trópicos que se dizia um "homi simprão". Mas vale lembrar o óbvio, antes que o engodo tome todas as cabeças ocas, que o bilionário não faz parte da classe dos chapeiros.

Por que não me ufano


Eu sei que costumo me repetir nos temas, mas a vida é repetitiva. No entanto, é preciso prestar a atenção na linguagem que a rede massa anda despejando na cabeça dos brasileiros. A experiência de linguagem da família de ratos é muito feia e burra.

Se não conseguimos desenvolver a linguagem, não desenvolvemos o imaginário, e sem o imaginário desenvolvido não há cidades belas e planejadas, não conseguimos modernizar.

Todavia, ainda cabe uma pergunta, que ninguém faz: o Ratinho representa quais interesses?

Reordenar as relações sociais (ou mesmo uma vida sem a classe dominante que perpetua a miséria) será uma tarefa bem difícil.

Por que não me ufano

Hoje está comprovado que um programa de baixo nível intelectual como o Boteco do ratinho pode ser uma entidade política que chamamos de Estado, pois é o filho do maior falador de merda vivo que comanda o Paraná. 

Neste contexto, podemos desenvolver a ciência e a filosofia o sem o Estado. O que seria até melhor.

Para corroborar o que estou dizendo, gostaria que alguém me apontasse uma pessoa, um servidor inteligente que está na folha de pagamento do Estado.

Por que será que o secretário de educação não escreve com fundamentação, não promove a leitura como objetivo geral? Ninguém precisa responder, é tudo tão previsível em geografias subdesenvolvidas.


Por que não me ufano


Não existe policial marxista. Que ideia errada! Polícia é braço armado da elite do atraso que perpetua a miséria.